segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Escravidão Online

Lígia Braslauskas, editora da Folha Online

Carmela Talento

Redigir trinta matérias e responder cerca de 200 e-mails por dia.Fotografar, tratar a imagem, produzir e editar vídeo.Essa é a rotina de quem trabalha no jornalismo na Folha Online , onde se cumpre uma jornada de mais de oito horas, de segunda a sábado. A remuneração básica: R$ 2.600,00(bruto). Para quem se habilita a uma vaga, ainda há exigência de inglês.



Esse foi o cenário que a jornalista Lígia Braslauskas, editora da Folha Online apresentou, de forma empolgada, no último sábado (20) dentro do projeto Imprensa em Dia, promovido pela Faculdade de Tecnologia e Ciência (FTC), para jornalistas e estudantes.



Não bastasse a realidade dos jornalistas sempre às voltas com os baixos salários, agora surge a escravidão online, com o agravante: essa prática vem proliferando na mesma proporção em que surgem inúmeros sites, todos, produzidos e mantidos com a mesma lógica do número reduzido de profissionais, com muitas atribuições e quase nenhuma remuneração.



Pelo visto, os editores não só aprovam, como entendem que é assim que deve ser e que o repórter tem mesmo que estar preparado para atuar dentro dessa nova realidade.



Fico imaginando como um repórter pode redigir 30 matérias em um só dia (exemplo da própria Folha), mesmo que sejam pequenas, se tem ainda a função de checar e apurar o que recebe de informação e contextualizar as noticias. Na minha modesta opinião, talvez um pouco ultrapassada, ainda como base o jornalismo que fazíamos nas décadas de 80 e 90, estão dando ao jornalismo o mesmo tratamento que é dado aos operários em uma linha de montagem.



Dai é que se entende a grande quantidade de erros e equívocos que uma leitura mais apurada desses sites revela.



Quando Ligia Braslauskas estava proferindo sua palestra de forma tão entusiasmada, falando das muitas horas que passa dentro da redação fazendo “de um tudo”, me veio à menta a imagem do genial Charle Chaplin, no seu fabuloso Tempos Modernos quando reproduz um operário de uma linha de montagem operando uma tal “máquina revolucionária” e de tanto repetir mecanicamente o mesmo procedimento acabou tento um surto de loucura.



Vejo o repórter em frente a essa máquina revolucionária de nossos tempos, que é o computador e as tantas possibilidades que a internet oferece, no mesmo dilema. No filme de Chaplin, após um período longo no sanatório o operário fica curado da crise, mas perde o emprego.



Na nossa realidade, a continuar do jeito que vai teremos uma situação inversa, ou seja, o operário do jornalismo mantém o emprego mas fica escravizado pelo trabalho, sem tempo sequer para cuidar da própria vida. Esse, certamente, não é o futuro que desejamos.

Um comentário:

Mônica Bichara disse...

Nossa, Carmelinha!
Cansei só de ler a listinha de tarefas. Se na Folha é assim, imagine o dia-a-dia dos profissionais e estagiários contratados (será que são?) por milhares de sites jornalísticos espalhados por aí. A guerra pelo "furo" do tempo real tem gerado muitas notícias literalmente furadas. Na dúvida, joga-se a informação no ventilador (êpa!), quer dizer no ar. Depois, é só correr para confirmar. Ou copiar de outro site. Ou apagar antes que role um processo. Ou a gozação dos colegas...
Taí um bom tema de debate da categoria. E que está só começando. bjs,
Mônica