terça-feira, 23 de setembro de 2008

Jornalismo impresso em destaque

José Bomfim




Falta de atenção até em anúncio fúnebre, rastreando a venda de sentenças e elogiando a Muito


“Delegado Da Polícia Civil é para saí todo em caixa alta em negrito, como se fosse um 3º título”.

Esse aí seria um simples recado do publicitário para o seu colega da arte no departamento de publicidade de A Tarde. Por azar dos dois e mais ainda da família do morto, o recado saiu no anúncio de falecimento, que pode ser conferido na página 13 de A Tarde de sábado, 20 de setembro.


Com todo o respeito à família do falecido, mas é impossível não rir. A falta de atenção é uma arma perigosa contra vivos e mortos, em jornais, então, veículos que publicam para a eternidade o erro acaba potencializado. Pra piorar, o autor parece não saber muito primeira pessoa ou infinitivo em verbo. Senão, como explicar o “saí”?

Sentenças

Até ontem eu me perguntava, o que fez os jornais refluírem no tratamento ao maior escândalo no Judiciário da Bahia, a compra e venda de sentenças judiciais? Hoje (segunda, 22), boas notícias. A Tarde afirma que a presidente do Tribunal de Justiça, desembargadora Sílvia Zarif, ao assumir o governo – em decorrência da ausência do governador Wagner e do impedimento do vice e do presidente da Assembléia Legislativa - fica mais forte para tomar decisões.

Tomara que não seja mais um exercício de futurologia do jornal – lembra, Mônica, do salário do prefeito? – e a desembargadora realmente aprofunde as investigações. Afinal, se os advogados suspeitos de comprarem as sentenças foram mostrados pela imprensa, não se pode deixar de buscar os vendedores. Sim, se advogados compraram, juízes e desembargadores venderam sentenças judiciais, lógico.

Fica aquela história que todo mundo meio que sabe, mas como os nomes não aparecem, ditos pela boca de uma autoridade acima do mundinho mais ou menos, então ficamos todos no disse-me-disse.

Muito

Vi duas revoluções no jornalismo da Bahia. A primeira foi o Bahia Hoje, jornal que obrigou seus concorrentes a se informatizarem; fez a edição antecipada do domingo e outras novidades mais. Agora, fico feliz com a revista Muito, de A Tarde. Uma excelente leitura dominical e material de pesquisa para toda a vida.

Nesta semana, parabéns especiais para as reportagens de Kátia Borges, (sobre Gessy Gesse e Vinícius de Moraes) e Marcos Dias, que fez uma excelente entrevista com o antropólogo e – eu não sabia! – dentista Vivaldo da Costa Lima. E um elogio especial à bela capa feita pela design

Ana Clélia Rebouças, responsável por uma diagramação exuberante e criativa.
Muito significa um alento para todos nós, que vemos o jornalismo impresso ser morto e ressuscitado a cada surgimento de novas mídias. Então, parabéns à turma de Muito, coordenada pela competente Nadja Vladi.

4 comentários:

Mônica Bichara disse...

Esse anúncio foi mesmo de morrer de rir.
Quanto à cobertura do caso da venda de sentenças pelo Judiciário baiano, Bomfa, quero aproveitar para elogiar o trabalho dos jornalistas Marcelo Brandão e Flávio Costa, do Correio, que estão juntos desde o início acompanhando o assunto. Esse negócio de ficar trocando de repórter numa mesma cobertura é horrível.
A Tarde está mesmo de parabéns com o lançamento da revista Muito, com textos bem trabalhados e fotos maravilhosas. Grande equipe.
Ao mesmo tempo lamento a decisão do Correio de acabar com um dos grandes trunfos do jornal, o caderno Repórter. Suas edições com certeza continuarão guardadas em muitos lares e bibliotecas (públicas ou particulares) como importante material de pesquisa. Tomara que Muito ocupe esse espaço e tenha vida longa.
Mônica

Anônimo disse...

Ângela Peroba enviou o seguinte comentário:

Querido Bomfa,

paz!

“Vocês conseguiram dissolver meu preconceito com relação aos blogs, porque são como poesias, tem cada uns (umas)!!!! Ainda bem que discernimos o joio do trigo. Sabendo usar o instrumento, podemos preencher uma lacuna que é fazer a mídia dos nossos sonhos, crenças e metas. Gostaria muito de postar alguma coisa boa sobre o ótimo blog que você tá fazendo com a galera boa! Vocês estão fazendo jóia nesse jornalismo lugar-comum que mais rola por aí... Algo crítico, criativo, bom de se ler, porque texto fluente, que flui como um rio que corre sozinho. Tô com vocês: a Muito tá demais; aguardo domingo para devorá-la. E vamos ter cuidado com a expansão da Opus Dei, porque o que simboliza, é mesmo passo de caranguejo, quem sabe até as penitências da Idade Média. Ah... a história do recado, a gente só acredita, porque tem a prova dos nove da publicação. Parece ficção, como diz Jorge Luiz Borges... No mais, um abraço nesse colega e amigo, Ânge.

Jadson disse...

Bomfim, é demais essa do anúncio fúnebre, engraçadíssimo, apesar do assunto. Me lembrei do "dona Carmen", episódio famoso no final do governo João Durval. Saiu no Diário Oficial do Estado, junto à nomeação de afilhado da mulher do então presidente da Assembléia Legislativa (foi isso mesmo, né?).
No rastro do elogio à revista Muito, de A Tarde, quero destacar o desmascaramento do ministro Jobim em matéria de capa da Carta Capital da semana passada (o Jobim é alvo também de Vitor Hugo, em instigante texto publicado em Terra Magazine). A grande imprensa ("mídia gorda") continua na sua, levando a sério figuras como o Jobim. A Carta Capital pega ainda Daniel Dantas, Gilmar Mendes e levanta pesada suspeita contra José Dirceu.
Destaque também para encarte do jornal Brasil de Fato, sobre o pré-sal, no bojo da campanha "O Petróleo tem de ser nosso".

Mônica Bichara disse...

Ângela, querida, que saudade!
Esse blog tá sendo realmente uma surpresa atrás da outra, tá dando um gostinho de liberdade (o direito de falar o que pensamos em um espaço nosso, sem dever nada a patrão ou patrocinador). Só a oportunidade de reencontrar tantos colegas já vale. Sua contribuição está sendo aguardada com entusiasmo. beijão