quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Futuro mais que perfeito

Ernandes Santos

Desde menino sempre tive problemas com esta coisa de tempo e modo verbais, mas mesmo sem entender como um pretérito podia ser mais que perfeito e como existia um futuro do passado, tive que agüentá-los. Recentemente, fui obrigado a tomar conhecimento de mais uma destas flexões verbais, da forma mais inusitada possível.


Cheguei em casa cansado. O trânsito intenso e uma destas viroses me consumiam. Tudo que consegui ver após abrir a porta foi um sofá macio। Sentei e só muito depois percebi que a tevê estava ligada e passava o famigerado Bahia Meio Dia. De imediato, pensei em desligar, mas a fadiga e o controle remoto à distância me impediram. Olhei de banda e vi que estavam no estúdio dois apresentadores. Um com pinta de estagiário, o Jony Torres, e outra - forçando um sotaque carioca – chamada Patrícia Nobre. Entrevistavam um homem engravatado. Soube em seguida que era o diretor de tecnologia da Rede Bahia, Antonio Paoli. Estavam todos eufóricos e eu sem entender nada. Era 1º de dezembro. Seria o espírito natalino? De repente, o Paoli fala todo vaidoso: “A televisão está começando do zero!”. Meu Deus! Como assim do zero? Deve ser a virose. Não. Foi isso mesmo que eu ouvi. A Patrícia confirmou e, mesmo com seu carioquês, eu a entendi. Era a TV Digital.

A Rede Bahia era a primeira do estado a transmitir sinais de televisão com uma nova tecnologia que oferece alta definição, portabilidade, imagens sem fantasmas ou chuviscos e até interatividade. Oba! A revolução, diziam eles. Mas cadê? Por que a minha tevê estava do mesmo jeito? Calma, tudo tem seu preço. Seria necessário adquirir um conversor capaz de transformar o sinal digital em sinal analógico e custava apenas R$ 300, 00. A revolução por apenas R$ 300,00 e o preço ia cair, afirmavam. Com a felicidade saindo pelos poros, o apresentador-estagiário pergunta ao diretor-revolucionário: “Podemos dizer, o futuro começa hoje?”. Silêncio por alguns segundos e o diretor-revolucionário, relutante, responde: Sim, mas ainda temos muito trabalho pela frente.


Sim. O futuro acabara de chegar e eu, vacilão, nem percebi. Mas fazer o quê. Eu aprendi que o futuro era aquilo que sempre estava por vir, como na canção Tomorrow Never Comes (O amanhã nunca chega), mas chegou e pelo Bahia Meio Dia. O futuro apareceu na TV em grande estilo, zerando tudo que foi feito por intermédio de Antonio Paoli e inaugurando modo e tempo mais que perfeitos. O diabo é que ainda não comprei o tal do transmissor. Mas, já que o bicho é revolucionário , imagino que, quando adquiri-lo, terei acesso a uma programação de qualidade sem tanta apologia à violência, programas de baixaria e de apelo sexual, jornais sensacionalistas que exploram a miséria alheia e programas infantis que transformam crianças em máquinas de consumo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Poxa,
fiz uma pesquisa no google, e encontrei uns Ernandes Santos, mas e aí? Qual deles é você? o do PTB de Roraima ou Formado em Educação Física? Um ótimo crítico da mídia, vá pegar seus alteres e malhar seu cérebro!