segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Imprensa de saia justa


Josias Pires


Na terça-feira passada (dia 9), o jornal A Tarde publicou reportagem de capa no Caderno 2, "Cinema de Saia Justa", questionando o apoio estatal a filmes que estão sendo realizados pela produtora Doc Doma. A reportagem carrega um certo tom denuncista e escora-se em dois artigos de lei para questionar a aquisição dos filmes pela TV Educativa.

O que falta na reportagem é o principal. Os dois nós que estrangulam o cinema baiano são o financiamento e a produção. Esse debate está ao largo da referida reportagem. Assim como a compreensão de que a aquisição de filmes por tevês públicas, estatais e privadas sempre ocorreu, é uma prática comum e salutar. Assim como é necessário à tevê fazer co-produções com projetos independentes e reforçar a sua própria capacidade de produzir e realizar uma programação com personalidade, legitimada pelo público.

Quando li a reportagem pensei que haveria suítes, que o tema fosse debatido nos dias seguintes. Esta prática está abolida no jornalismo baiano. Nada. Só se falou no assunto à boca pequena. A mesma imprensa que acusa e julga deixa a peteca no ar, abandona a partida no meio, o público fica sem referências para entender o que está exatamente em jogo.
Considero – assim como a maior parte da torcida do Bahia - que o debate público acerca das políticas públicas é fundamental para consolidarmos a democracia participativa. A imprensa tem a obrigação – sabemos disso desde criancinhas – de acompanhar, fiscalizar, criticar, debater, compreender os atos da administração dos negócios públicos.

O jornal A Tarde poderia ter dado uma boa contribuição para o debate sobre política cultural do governo baiano se pusesse em questão a aquisição de obras audiovisuais pela TVE, comparando esta iniciativa com o que é feito em outras emissoras do país. Comparando e avaliando os custos de aquisição praticados pela TVE Bahia com aqueles praticados em outros praças. E informar a todos os interessados que a emissora está praticando esta política e que ela se soma à política de editais.

Insisto: a imprensa baiana precisa acompanhar de modo pró-ativo, em defesa da sociedade, todos os negócios públicos. Ao invés disso, o que temos lido são reportagens que muitas vezes ficam no varejo. Ou entram por uma linha de factóide, talvez porque a pauta tenha origem em interesses partidários. Neste caso o jogo é eleitoral, ou pré-pré-eleitoral.
E sendo assim acaba "matando" civis. As insinuações que a reportagem faz em relação à participação de Moacir Gramacho na obtenção de recursos para os filmes é incabível. Moacir é co-diretor do filme não porque dirige o Teatro Castro Alves, mas por ser diretor de arte, é um dos mais notáveis artistas contemporâneos da Bahia, está no filme por sua afinidade com o projeto de há muito tempo.

O jornal confundiu as coisas. A pauta é outra: funcionários públicos estão proibidos na Bahia de participar de editais de financiamento artístico.

Há toda uma geração de cineastas baianos funcionários públicos. Aguinaldo Siri Azevedo, Tuna Espinheira, Joel de Almeida, Fernando Beléns ... de repente os caras são proibidos pela lei de licitações a concorrer aos prêmios. Os conselheiros dos Tribunais de Contas e os Procuradores e desembargadores precisam debater o assunto, entender que editais na área de financiamento artístico não devem penalizar essa parcela de artistas.

As comissões julgadoras dos editais são formadas por notáveis e não pela comissão de licitação permanente do órgão estatal que financia. O artista funcionário tem a mesma influência sobre o júri do que a de qualquer outro artista. Ou seja, nenhuma. Cabeça de júri é oficina do cão.

Meu Deus! Quantos funcionários públicos notáveis temos na história da cultura brasileira. Quando o sujeito é poeta, escritor, a produção da sua arte é quase solitária. De financiamento, basta o salário. Mas o Estado nunca deixou de publicar livros escritos por ou com a participação de funcionários públicos. Isto é ridículo. Imagina fazer cinema. Os únicos meios de financiamento disponíveis são os editais públicos, federais e estaduais. Se você não pode participar do edital ... vai fazer outra coisa! Esqueça o cinema? Mas o cara passou a vida inteira aprendendo a fazer isto ... Ainda bem que as leis são atualizadas sempre que a sociedade compreende que precisam ser atualizadas. A imprensa é o local privilegiado para o debate. Para além de um debate corporativo. Mas o debate não está na imprensa. Ainda bem que temos a internet para fazer alguma reverberação. ^

Numa sociedade democrática e participativa, a opinião pública deve manifestar-se a respeito de tudo, inclusive quanto à necessidade do investimento estatal na produção artística. E o Estado deve munir-se dos instrumentos adequados para cumprir suas prerrogativas com lisura e discernimento.

De outro lado, estado, governo, artistas e produtores devem buscar alternativas de financiamento, inclusive privadas. Os editais são importantes, mas não esgotam o cardápio de opções de financiamento.

O outro gargalo para a realização de filmes na Bahia é a capacidade de produção, no sentido de as produtoras terem incorporado e desenvolvido uma tecnologia de planejamento e execução de filmes, otimizando o uso dos recursos e atraindo novos apoios com colaboração/co-produções de parceiros locais, nacionais e internacionais.

Temos enorme capacidade criativa – a Bahia é um dos estados da federação de maior diversidade cultural, um substrato que potencializa projetos artísticos – porém inexistem estruturas de financiamento e produção sólidas, capazes de impulsionar e manter ativo o fazer cinematográfico na Bahia de hoje.

5 comentários:

Anônimo disse...

Ei! Cadê meu nome?

Anônimo disse...

Esse comentário aí em cima era pra outra matéria. Foi mal. Eu queria sugerir a Joana e demais colaboradores do site que sempre que possível, coloquem linques para as matérias que estão sendo tratadas no texto. Valeu!

Ceci disse...

Josias:
Concordo demais com tudo o que disse.

Anônimo disse...

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