(Ao velho Araka, que usava "indumentária" quando redator da TB, especialmente a primeira nota)
Jadson Oliveira
O Jornal do Commercio, de Manaus, tem mais de 100 anos
Página do Jornal do Commercio reimpressa de edição de 1912
Os Buliçosos – O que elles fazem...
"Uma rêde de pesca, uma bonita e bem feita rêde de pesca, pertencente a Damião José Malheiro, desapparecera como por encanto.
Não houve resa, nem promessa, nem nada que fizesse voltar ao velho aprisco o querido objecto.
O Jornal do Commercio (assim com dois emes e sem acento), aqui de Manaus, que completou 105 anos no último dia 2, reimprime diariamente uma página do início de sua vida, fazendo-a circular junto com sua edição atual. Pesquei algumas notas de duas de suas edições, uma de 25/11/1912 e outra de 13/01/1913.
Página do Jornal do Commercio reimpressa de edição de 1912
São verdadeiras pérolas para os estudantes de Jornalismo Comparado. Interessante e engraçado para quem curte essa coisa de escrever e ler notícias. Gostoso apreciar o contraste com a linguagem e a técnica em vigor hoje, bem como com os costumes, o comportamento, os conceitos e preconceitos da sociedade atual. Mantenho a ortografia da época, pois creio que dá um sabor especial.
A eterna desculpa – Vem sob o título OCCORRENCIAS (Desculpe Araka, não é só pra você, é pra todos nós cachaceiros, sem esquecer, jamais, José Irecê):
"O alcool é a eterna desculpa de todas as acções reprovaveis. Individuos ha de tão baixos sentimentos que se embriagam para, ebrios e cambaleando, perpetrar toda a sorte de depredações, toda a especie de desordens.
Estava bebado, diz-se em justificativa.
"O alcool é a eterna desculpa de todas as acções reprovaveis. Individuos ha de tão baixos sentimentos que se embriagam para, ebrios e cambaleando, perpetrar toda a sorte de depredações, toda a especie de desordens.
Estava bebado, diz-se em justificativa.
É o caso de Francisco Alves Feitosa. Absorvendo bebidas sem conta, andou hontem a promover arruaças lá para as bandas da praça de S. João.
Mas a policia, chegando-lhe ao pé em bôa hora, applicou-lhe o correctivo que se fazia necessario."
Mas a policia, chegando-lhe ao pé em bôa hora, applicou-lhe o correctivo que se fazia necessario."
Amor puro e casto (esta, também de OCCORRENCIAS, é a legítima defesa da moral e da honra):
"Sergio Rodrigues da Costa tem seu domicilio na colonia Oliveira Machado.
Também reside naquele aprasivel logarejo Joanna Francisca do Amor Divino, com sua filha Luiza Maria da Conceição.
"Sergio Rodrigues da Costa tem seu domicilio na colonia Oliveira Machado.
Também reside naquele aprasivel logarejo Joanna Francisca do Amor Divino, com sua filha Luiza Maria da Conceição.
Sergio apaixonou-se por Luiza; mas não soube (ilegível) nesta paixão um amor puro e casto, idealmente santo. Fez-se d. Juan Tenorio e conseguiu, por meio de fallazes promessas de casamento, esmagar aos pés a corôa symbolica daquella virgem que o amava.
A mãe da pobre victima contou o caso à policia do primeiro districto, cuja autoridade de permanencia mandou proceder a exame medico legal, constatando o dr. João Dias a veracidade da accusação.
Sergio Costa ficou detido naquelle posto policial".
Aggressão e ferimento – É o título, com direito a subtítulo ou "apoio", como dizemos hoje: "Houve hontem um sarilho à rua Lobo d'Almada".
São cinco parágrafos (o espaço é pequeno, a página, como se pode ver na foto, é dividida em sete "medidas"). Os três primeiros, o famoso "nariz de cera" no jargão das redações, são assim:
"É frequente se vêr, no turbilhão da humanidade, individuos turbulentes, dispostos sempre a perturbar a ordem, a maltratar o seu semelhante sem piedade e sem constrangimento.
Para esses, nada ha de mais natural que vibrar uma bofetada, atirar com uma bengala sobre o corpo do proximo, aggredir estupidamente a quem quer que seja.
É quasi uma nevrose, o goso de ver soffer a outrem, o desejo de se sentir mais forte e provar que o é realmente".
A mãe da pobre victima contou o caso à policia do primeiro districto, cuja autoridade de permanencia mandou proceder a exame medico legal, constatando o dr. João Dias a veracidade da accusação.
Sergio Costa ficou detido naquelle posto policial".
Aggressão e ferimento – É o título, com direito a subtítulo ou "apoio", como dizemos hoje: "Houve hontem um sarilho à rua Lobo d'Almada".
São cinco parágrafos (o espaço é pequeno, a página, como se pode ver na foto, é dividida em sete "medidas"). Os três primeiros, o famoso "nariz de cera" no jargão das redações, são assim:
"É frequente se vêr, no turbilhão da humanidade, individuos turbulentes, dispostos sempre a perturbar a ordem, a maltratar o seu semelhante sem piedade e sem constrangimento.
Para esses, nada ha de mais natural que vibrar uma bofetada, atirar com uma bengala sobre o corpo do proximo, aggredir estupidamente a quem quer que seja.
É quasi uma nevrose, o goso de ver soffer a outrem, o desejo de se sentir mais forte e provar que o é realmente".
Aí no quarto parágrafo, o redator fala da agressão propriamente dita e, no último, arremata: "A arma em acção foi o guarda-chuva, que manejado com habilidade e arremessado com força, produziu um ferimento no couro cabelludo do paciente".
O tempo ontem – Primeiro tem uma notinha, sob o título "Hontem", e logo acima há o título maior "Omnibus". Não consigo atinar com a relação entre uma palavra e outra. (Depois da nota "Hontem", segue outra intitulada "Hoje", onde estão relacionados audiências na Justiça, missas, leilões, programação de teatro, cinema, plantonistas de delegacias de polícia). Ei-la:
"Manhã alegre, morna e calma.
A tarde começou limpida e clara, tendo por volta das trez horas cahido um aguaceiro forte e tempestuoso, de relampagos fuzilantes e trovões que ribombavam com estrepido.
A noite foi escura e fresca."
Na outra edição, a mesma coisa - "Omnibus" e "Hontem" (o redator capricha):
"O dia de hontem, embora quente, não foi todo elle de calor asphixiante e insupportavel.
A manhã, illuminada nas reverberações de um sol que fuzilava no céo escampado, tornou-se ligeiramente morna.
A tarde, abrasadora às primeiras horas, chegou a ser agradável das trez horas em diante.
A noite foi suave. O céo apresentava pyramides em profusão de nuvens accumuladas, pelo meio das quaes a lua, divinamente branca, boiava serena e placida numa esteira de frócos alvacentos".
As queixas do povo – Reclamações que nos trazem:
"Uma família, residente numa casa em frente à villa Georgett, pede por nosso intermedio as vistas da policia para o procedimento dos moradores d'uma "republica", na localidade n. 6, da mencionada villa, que têm por habito vir à janela em trajes de Adão"
O tempo ontem – Primeiro tem uma notinha, sob o título "Hontem", e logo acima há o título maior "Omnibus". Não consigo atinar com a relação entre uma palavra e outra. (Depois da nota "Hontem", segue outra intitulada "Hoje", onde estão relacionados audiências na Justiça, missas, leilões, programação de teatro, cinema, plantonistas de delegacias de polícia). Ei-la:
"Manhã alegre, morna e calma.
A tarde começou limpida e clara, tendo por volta das trez horas cahido um aguaceiro forte e tempestuoso, de relampagos fuzilantes e trovões que ribombavam com estrepido.
A noite foi escura e fresca."
Na outra edição, a mesma coisa - "Omnibus" e "Hontem" (o redator capricha):
"O dia de hontem, embora quente, não foi todo elle de calor asphixiante e insupportavel.
A manhã, illuminada nas reverberações de um sol que fuzilava no céo escampado, tornou-se ligeiramente morna.
A tarde, abrasadora às primeiras horas, chegou a ser agradável das trez horas em diante.
A noite foi suave. O céo apresentava pyramides em profusão de nuvens accumuladas, pelo meio das quaes a lua, divinamente branca, boiava serena e placida numa esteira de frócos alvacentos".
As queixas do povo – Reclamações que nos trazem:
"Uma família, residente numa casa em frente à villa Georgett, pede por nosso intermedio as vistas da policia para o procedimento dos moradores d'uma "republica", na localidade n. 6, da mencionada villa, que têm por habito vir à janela em trajes de Adão"
Os Buliçosos – O que elles fazem...
"Uma rêde de pesca, uma bonita e bem feita rêde de pesca, pertencente a Damião José Malheiro, desapparecera como por encanto.
Não houve resa, nem promessa, nem nada que fizesse voltar ao velho aprisco o querido objecto.
Pois hontem Damião teve a suprema dita de avistal-a em mãos de Manoel Dias da Silva e correu a contar o caso à segunda delegacia.
Chamado ao posto policial Dias declarou haver comprado a rêde a um negro que se dizia cosinheiro do Chandless."
Chamado ao posto policial Dias declarou haver comprado a rêde a um negro que se dizia cosinheiro do Chandless."
Os insultos de Thereza – Com aquele título OCCORRENCIAS, mas da outra edição, vão aí, encerrando o espetáculo, duas das seis notas publicadas:
"Thereza Gonçalves, residente no igarapé de Manáos, foi hontem multada em 30$000, pela policia do primeiro districto. Deu causa a isto, uma queixa contra si, apresentada à primeira delegacia por Benedicto Lopes, que disse à autoridade de permanencia ser constantemente victima de insultos de Thereza".
"Raymundo Silvestre da Silva, individuo sem emprego, estudou um meio de poder angariar a vida graciosamente... e mãos a obra. Arranjou uma "arapuca" lá para os Artigos bellicos e haja pegar galinhas. Já estava com oito dentro de um sacco quando appareceu a praça."
"Thereza Gonçalves, residente no igarapé de Manáos, foi hontem multada em 30$000, pela policia do primeiro districto. Deu causa a isto, uma queixa contra si, apresentada à primeira delegacia por Benedicto Lopes, que disse à autoridade de permanencia ser constantemente victima de insultos de Thereza".
"Raymundo Silvestre da Silva, individuo sem emprego, estudou um meio de poder angariar a vida graciosamente... e mãos a obra. Arranjou uma "arapuca" lá para os Artigos bellicos e haja pegar galinhas. Já estava com oito dentro de um sacco quando appareceu a praça."
5 comentários:
Receba, Araka! Você, figura de "tão baixo sentimento", que costuma ficar "absorvendo bebidas sem conta", termina "perpetrando toda a sorte de depredações, toda a especie de desordens". kkkkkkkkkkkk Fantasiado de torcedor do Baêêêa, então....., só promove aruaças. É mesmo um autêntico "individuo turbulente". Valeu Jadson
Desculpem o erro: é arruaça
Aê Araka! Quem manda ficar por aí "absorvendo bebidas sem conta" e fantasiado de torcedo do Baêêêa? Bem feito! (hihihihihihi).
Ops! Errei também. É torcedor!
Jadson, tive um dia agoniado no trabalho, mas não vou mais precisar nem de calmante, nem de yoga e nem de massagem pra relaxar. Ri tanto que a agonia passou.
Um beijo
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