sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Waldir Pires dá aula de cidadania

José Bomfim
















Dr. Waldir, diplomaticamente, fecha qualquer espaço ao autoritarismo

Chegamos à metade do primeiro mês do Ano-Novo, mas vou falar de assuntos referentes a 2008. O comentário deveria ter sido feito quando os fatos aconteceram, mas a roda-viva faz a gente adiar tanta coisa importante. Bom, destaco a educação, diplomacia, mas nem por isso deixando de ter a altivez que se espera de um cidadão digno, do Dr. Waldir - como a maioria chama carinhosamente o ex-ministro e ex-governador Waldir Pires.

No início de dezembro, reportagem de A Tarde sobre a sessão no Tribunal de Justiça da Bahia do julgamento do assassino de Natur de Assis, afirmava que o desembargador Gilberto Caribé - me lembra o colega dele do STF, Gilmar Mendes, não sei porquê - teria dito, a respeito da presença de Waldir Pires e Nilmário Miranda, então ministros do governo, no júri, em Feira de Santana, em 2004, que eles estavam no plenário “como se não tivessem nada para fazer”.

Utilizando o Espaço do Leitor, em 5 de dezembro, Waldir Pires comentou:

“É claro que compareci ao Tribunal do Júri, na cidade de Feira de Santana, em abril de 2004, com o sentimento do maior respeito à dignidade da pessoa humana, para a afirmação, entre todos, do maior dos seus direitos, que é o da vida. Não se pode tratar, levianamente, o direito à vida. O Tribunal do Júri é a grande instituição constitucional, simbólica, republicana, para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida. O assassinato do cidadão Natur de Assis, em Ubaíra, no ano de 2001, sensibilizou-nos, profundamente, a todos. A mim, sobretudo, porque conhecera e convivera com seu pai, poeta baiano de nossa geração, meu colega de ginásio, no Clemente Caldas, de Anísio Melhor, em Nazaré das Farias; e, posteriormente, também conhecera sua mãe, grande lutadora pelos Direitos Humanos, Kátia Assis. O crime que tirou a vida de um homem como Natur de Assis, decente, pacífico, honrado pela estima da população, em Ubaíra, foi um assassinato brutal, pusilânime, de um cidadão desarmado, que caminhara, sozinho, para tentar convencer, pelo aconselhamento, os facínoras que estavam intimidando a cidade e ameaçando famílias, dezenas de pessoas abrigadas e protegidas pela tranca das portas frágeis de uma residência. Meu ato de ir à Sessão do Júri tinha o sentido pedagógico, como ministro de Estado, da construção democrática de nossa cidadania. A lição de um dever que nos incumbe a todos, sobretudo, aos que transitória ou permanentemente, se encontrem no topo de funções do Estado Democrático, dos seus poderes Legislativo, Executivo ou Judiciário, a fim de que mereçam a credibilidade da população. Ensinar o apreço da regra fundamental da Democracia: ‘Todo poder emana do povo’. O senhor desembargador Caribe declarou que foi voto vencido e único do Tribunal de Justiça da minha terra. Voto único e inexplicável, salvo, quem sabe! Pela complacência com os tempos de arbítrio, que produz a impunidade, e que a Bahia e a Nação esperam que não retornem jamais” – Waldir Pires.

Dias depois, Gilberto Caribé, negou que tivesse dito o que a reportagem afirmara sobre a presença dos ministros. O jornal não se posicionou se o texto do repórter estava equivocado ou se o desembargador criticara mesmo a presença dos ministros no júri.



Prédio do TJ, apelidado de Sukitão por motivos óbvios


Desembargadora não disse a que veio



Quando se fala em Tribunal de Justiça da Bahia, no exercício de 2008, vem logo a lembrança da obscuridade sobre a venda de sentenças. Impossível não lembrar. Ficou provado que advogados compravam sentenças. Advogados chegaram a ser presos, lembra-se? Sim, mas e os vendedores de sentença?

A desembargadora Silvia Zarif chegou a anunciar que em coletiva de imprensa revelaria os nomes dos vendedores de sentença. A expectativa foi geral, afinal, quais seriam os juízes e desembargadores que estavam fazendo papel de agente duplo?

Chegou o momento esperado e veio a decepção, Sílvia Zarif ficou com a opinião do desembargador Gilberto Caribé de que melhor seria não revelar os nomes dos vendedores. Resultado: advogados libertados e, pelo menos, oficialmente, nenhuma revelação sobre os vendedores de sentença.

No Espírito Santo, a Polícia Federal chegou a prender o presidente do Tribunal de Justiça de lá. No Maranhão, a venda de sentenças também estourou e a polícia agiu, agora em janeiro. Na Bahia, optou-se pelo abafamento.

A nuvem paira até hoje no TJ da Bahia. Um caso muito sério, a venda de sentenças, está fadado ao esquecimento. Do governo estadual, que em outros tempos representaria a esquerda no poder, não se ouviu nem um piu, aliás, nem muxoxos. E a imprensa, que começou a averiguar o caso com alguma tenacidade, esqueceu rapidinho.

Assim, a primeira mulher a presidir a maior instância judiciária do Estado da Bahia fica lembrada por esse triste – para a democracia e a informação pública – episódio. Mas não é só. A desembargadora que assumiu falando em mudanças de horário de atendimento ao público nas repartições judiciárias, foi manchete em 3 de dezembro nos jornais. Ela explicava que houve “desvirtuamento proposital” do objeto de licitação para o TJ adquirir tapetes estilo persa. Disse à imprensa que “foi uma coisa orquestrada” e que teria sido um crime, “que vai ser apurado”. A apuração deve ser muito sigilosa, porque ninguém soube nem falou mais no caso.

Bom, o barulho sobre o assunto pelo menos impediu que os tapetes persas chegassem à alta corte de Justiça da Bahia.

COT, clínica no Canela, que teve um pavimento incendiado em 24 de novembro de 2008


O sujeito oculto na TV. E o prêmio do Correio


O terceiro comentário ainda de 2008 é sobre algumas reportagens de TV. Continuo intrigado como as emissoras de TV fazem reportagens e não revelam os locais. Quando eram shoppings, havia sempre a desculpa esfarrapada que não se dizia o nome do estabelecimento para não gerar propaganda espontânea – argumento dos departamentos de marketing e jurídico da empresa.
Mas a coisa extrapolou quando houve a “cobertura” do incêndio no COT do Canela, na noite de segunda-feira, 24 de novembro (Fogo na COT do Canela causa remoção de paciente - http://www.atarde.com.br/cidades/noticia.jsf?id=1015871
CIDADES).
A repórter dizia: “Ocorreu um incêndio em uma clínica no centro da cidade”. Significa que alguém que tivesse um parente internado na clínica teria que fazer um “tour” pelas ruas centrais de Salvador até descobrir a clínica? Qual o problema de não informar direito?! O onde do lead definitivamente foi pro espaço.
Em 5 de dezembro, no Bom Dia Bahia, mais uma pérola. Numa reportagem sobre o Papai Noel com roupas verdes, a repórter dizia solenemente “num shopping que foi inaugurado recentemente”, e aí o telespectador que trate de descobrir qual foi. Taí o link: Shopping tem Papai Noel verde -
(
http://www.portalibahia.com.br/jornaldamanha/wp-content/uploads/2008/12/noel_verde.wmv)


E uma excelente notícia:

Ressalto ainda o prêmio conquistado por jornalistas do Correio, em 17 de dezembro de 2008. Reproduzo, aqui, a nota veiculada no Correio, em 18/18:

Os repórteres do CORREIO, Flávio Costa e Marcelo Brandão, receberam nesta quarta-feira (17), em Brasília, o 5º Prêmio AMB de Jornalismo, na categoria regional Nordeste com a série de reportagens sobre a Operação Janus.
O trabalho 'Justiça Venal' foi selecionado dentre 271 inscritos na premiação nacional da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e venceu na categoria regional os trabalhos concorrentes: 'Amor Bandido' (de Mônica Silveira, TV Globo) e 'O tempo como o senhor da impunidade' (de Thiago Cafardo, O Povo).
A série de reportagens também incluiu denúncias feitas na promoção de juízes no Tribunal de Justiça da Bahia e contou com a colaboração dos repórteres Cìnthia Kelly, Mariana Rios, Felipe Amorim e Lenilde Pacheco.

2 comentários:

Mônica Bichara disse...

Transcrevo comentário que postei no Blog do Brown sobre Waldir:
"Bomfim, que excelente oportunidade você nos dá de falar sobre essa figura, essa personalidade, esse estadista que é Waldir Pires. Um dos poucos políticos baianos que nos enche de orgulho. Outro dia postei um comentário no Nublog sobre esse mesmo episódio do desembargador Caribé, lembrando que Waldir será sempre o nosso SENADOR, de fato, ainda que não tenha sido de direito (alguém duvida que ele ganhou aquela eleição do desconhecido Waldeck Ornelas?).
Um POLÍTICO, assim mesmo com todas as letras maiúsculas, contra quem as maiores acusações são falar com os olhinhos fechados e ser “moleza”. Mil vezes a moleza do que a malvadeza.
Grande Waldir, como diz nosso querido Alvinho da Praça do Pau Mole(hehehe), colega da Câmara Municipal. O nosso senador/ministro estava acompanhando o tal júri em Feira de Santana, em 2004, justamente por ser um político, um cidadão, comprometido com os direitos humanos, com a democracia. Graças a Deus o desembargador Gilmar Mendes, quer dizer Caribé, foi voto vencido. O assassinato do Natur não poderia mesmo ficar impune. E o Dr. Waldir estava lá, como deveriam estar muitos outros políticos e juristas baianos.
Outra coisa que sempre me impressionou em Waldir Pires foi o amor que fazia questão de declarar a Yolanda. Eles não só eram como demonstravam ser felizes um com o outro. Uma emoção que me fez chorar no velório de Yolanda, no plenário da Câmara, por reconhecer a dor que aquele homem estava sentindo. Um homem, de fato, para ser homenageado em vida".

Anônimo disse...

Protecionismo na Justiça baiana, mas isso não é nada perto das vendas de sentenças que o autor destaca.
Quem cobra e pune a Justiça Brasileira???????
Magistrado acusado e sentenciado tem como punição uma aposentadoria compulsória com seu salário integral.
Viva a impunidade...
Até quando esperar, a plebe ajoelhar...esperando a ajuda do divino Deus.
rac