quarta-feira, 6 de maio de 2009

A linguagem e as coisas


Jadson Oliveira
De Curitiba(PR) “Hoje em dia, não fica bem dizer certas coisas perante a opinião pública। O capitalismo exibe o nome artístico de economia de mercado। O imperialismo se chama globalização। As vítimas do imperialismo se chamam países em via de desenvolvimento, que é como chamar de meninos aos anões। O oportunismo se chama pragmatismo. A traição se chama realismo. Os pobres se chamam carentes, ou carenciados, ou pessoas de escassos recursos”.


O escritor Eduardo Galeano

O trecho acima, incluindo o título, é da Carta Maior, introduzindo mais um artigo do grande Eduardo Galeano, de uma série que começou a publicar recentemente para suprir a lacuna da imprensa brasileira, uma das poucas no mundo que não divulgam a rica produção do jornalista e escritor uruguaio।
Ele tem 68 anos e já publicou mais de 40 livros। Quando da recente Cumbre das Américas, em Trinidad e Tobago, tornou-se mais conhecido das novas gerações por ter um de seus livros ofertado pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, diante das câmeras de TV de todo o mundo।

Tratou-se do clássico As Veias Abertas da América Latina, escrito em 1970 e reeditado umas 40 vezes, onde Galeano relata, em linguagem picante, os 500 anos de espoliação da América Latina pelos diversos impérios de plantão: o espanhol, o português, o britânico e, por último e infelizmente atual, o estadonidense।
PÉROLAS DE GALEANO - Não resisto ao deleite de transcrever mais algumas pérolas (lá têm mais) do artigo publicado na Carta Maior, retirado do livro De Pernas pro Ar (a troca das palavras e expressões é uma prática diária dos nossos jornalões, TVs e rádios):
“O direito do patrão de despedir sem indenização nem explicação se chama flexibilização laboral;
As torturas são chamadas de constrangimentos ilegais ou também pressões físicas e psicológicas;
Quando os ladrões são de boa família, não são ladrões, são cleptomaníacos;
O saque dos fundos públicos pelos políticos corruptos atende ao nome deenriquecimento ilícito;
Tampouco são mortos os seres humanos aniquilados nas operações militares:
os mortos em batalha são baixas e os civis, que nada têm a ver com o peixe e sempre pagam o pato, danos colaterais;
Em 1995, quando das explosões nucleares da França no Pacífico Sul, o embaixador francês na Nova Zelândia declarou: “Não gosto da palavra bomba। Não são bombas। São artefatos que explodem”।
DE SOBREMESA, passo pra vocês um poema venenoso do nosso Eduardo Galeano, retirado dos meus arquivos। (Sempre sobre a situação de nossa América Latina, a qual, felizmente, vem mudando pra melhor nos últimos anos):
“Los funcionarios no funcionan।
Los políticos hablan, pero no dicen.
Los votantes votan, pero no eligen.
Los medios de información desinforman.
Los centros de enseñanza (ensino) enseñan, a ignorar.
Los jueces (juízes) condenan a las víctimas.
Los policías no combaten los crímenes, porque están ocupados en cometerlos.
Las bancarrotas se socializan, las ganancias (os lucros) se privatizan.
Es más libre el dinero que la gente.
La gente está al servicio de las cosas”.

2 comentários:

Anônimo disse...

Não há pobres, há empobrecidos

Non je ne regrette rien: Ediney Santana disse...

Não há pobres, há empobrecidos