quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Pingüim também é ser humano?



Jadson Oliveira


Outro dia topei com um cara (mendigo, morador de rua, sem-teto, abandonado, pobre, miserável, doente, não sei bem como qualificá-lo) deitado em plena passarela da Avenida Centenário, em frente ao Shopping Barra, envolto em trapos. Um senhor que passava comentou: “Olhaí, se fosse um pingüim, alguém já teria providenciado um socorro qualquer...”

Pois não é que é verdade? Com toda a campanha que vinha sendo feita em nossa mídia para acudir aos pobres dos pingüins só podia mesmo dar nisso. Coitadinhos, perdidos por esta região quente, desviados por correntes marinhas, os corações humanitários não agüentam! Eu disse humanitários? Só falta alguém comentar que pingüim também é ser humano. (Lembram de Rogério Magri, ex-ministro do Trabalho do governo Collor, que, numa observação altamente filosófica, disse que cachorro também é ser humano?).

Que nossos amigos ecologistas não se ofendam. Em princípio, a ação em favor das exóticas aves é louvável. Mas no contexto de miséria e exclusão de milhões de homens, mulheres e crianças, trata-se de uma agressão ao verdadeiro ser humano, que deveria ser o objeto central de todas as políticas. Elementar, uma questão de prioridade. Será que os agentes de nossa grande imprensa não sabem, ou não querem saber, que milhares de crianças ainda morrem de fome por esse mundão afora, inclusive em Salvador, Bahia, Brasil?

Prioridade, é somente disso que se trata. Nada contra os simpáticos pingüins. Aliás, li há poucos dias um artigo no jornal A Tarde, de autoria de José Medrado, da Cidade da Luz, falando deste assunto, a partir de uma ótica semelhante. Parabenizo o líder espírita pela iniciativa.

Tais observações me vieram à mente ao ler ontem, dia 8, em A Tarde, a matéria “Navio com 31 pinguins parte rumo à Antártica”. Deve ter sido publicada em quase todos os jornais brasileiros, pois foi distribuída pelas agências de notícias Brasil e Folhapress.

Segundo a matéria, as aves estão sendo devolvidas à Patagônia, sul da Argentina, pegando carona em navio de pesquisadores brasileiros da Operação Antártica, depois de passarem por tratamento de saúde e por avaliação em centro de pesquisa. Em anos anteriores, as aves recolhidas e salvas por aqui foram reconduzidas ao seu habitat em aviões da Força Aérea Brasileira.

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