sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Insipiência midiática

Ernandes Santos


Domenico de Masi


Depois de contar três ou quatro casos destes que passam em todos os jornais ao longo da semana e perceber o meu total desconhecimento das notícias, o parceiro de bar (no glorioso bairro da Boca do Rio) fala em voz alta: “Na moral, velho, eu pensei que você fosse mais inteligente!” . Parei um pouco, olhei para o lado e gritei: “Gaguinho! Traz mais uma gelada aí!”



Sei que bar não é lugar de coisa séria, mas eu parei pra pensar. Afinal tinha acabado de ser posto de lado pelos outros freqüentadores por conta da minha insipiência midiática.


Olhava para a cerveja enquanto ouvia sobre crianças jogadas pela janela, a escolha do novo presidente do Bahia e que o mercado tava nervoso mais uma vez. Todos tinham acabado de assistir as mesmas coisas através dos mesmos veículos e pareciam falar de coisas diferentes. Todos gritavam e ninguém ouvia ninguém.


Aí lembrei do velho italiano que aconselhou no Roda Viva a fazer dieta de informações. Ele, o Domenico de Masi.


O sociólogo disse que induziu vários de seus alunos a não assistirem ou lerem jornais durante dias. Depois eles puderam perceber que nada de importante aconteceu e que pouca coisa mudou nas suas vidas.


Mais um copo e agora me lembrava perfeitamente porque tinha parado de me empanturrar de notícias e sair por aí arrotando inutilidades. Seguia os conselhos do professor.

Mas, mesmo sob efeito do álcool, lembrei também da teoria de outros dois sociólogos americanos chamados Merton e Lazarsfeld. Uma tal de "disfunção narcotizante".


Basicamente eles falavam que indivíduos expostos a um bombardeio diário de informações, confundem saber das coisas com está fazendo alguma coisa.Então é só sentar na poltrona até ouvir o “boa noite” do William Bonner e já se pode ter a sensação de dever cumprido.


Eu sou um cidadão.Prometo que a partir de hoje vou me inteirar mais sobre o que tá rolando por aí, afinal estar numa mesa de bar sem saber o que passou no Bocão ou Varela pode ser mesmo um saco.


Dieta, só não posso fazer de álcool. Como diz uma grande amiga, ninguém agüenta tanta sobriedade. Gaguinho, outra gelada!

4 comentários:

Jadson disse...

Dieta de informações talvez seja uma saída contra o bombardeio diário dos nossos (de)formadores de opinião, já que as alternativas ao chamado pensamento único são raras por essas bandas. O Jornal Nacional, para falar no míssel de maior alcance, é uma pílula diária de alienação e apatia. Parabéns, companheiro, seja bem-vindo ao Mídia Baiana.

Denilson Cruz disse...

Conversa de bar é a expressão filosófica daqueles que no sóbrio dia a dia odeiam filosofar.
Talvez em uma outra atmosfera suas concepções seriam inteligíveis, e então, a idéia de menos seria substituida pela idéia de mais inteligente, ou até inteligente demais.
Filtrar informações, não é para qualquer um, ou melhor, é, mas poucos sabem fazê-lo. Creio que tu sabes como.

Anônimo disse...

O bar é a ágora moderna e os jornais parecem ter encontrado a sua utilidade máxima ao fornecerem assunto para as reuniões sob o efeito etilíco.

Mônica Bichara disse...

Gaguinho, uma gelada pra mim também! Só assim pra suportar essa overdose de mesmice, o tal do pensamento único como bem diz Jadson.
Bom ter vc aqui, Ernandes. Prova que Jô estava certa quando marcou a reunião do MB num bar. Adorei a tirada do seu parceiro de buteco: "Na moral, velho, eu pensei que você fosse mais inteligente!". kkkkkkkkkk Só Gaguinho pra te salvar. Ou Jadson, pra mandar um "vá pá pooooorrrrrrrra!". hehehe