terça-feira, 30 de dezembro de 2008

O foco, senhores, cadê o foco?

Jadson Oliveira




Na segunda-feira, dia 22, uma parcela maior de brasileiros – quem se liga na TV Cultura – teve uma grande oportunidade de ter acesso a informações de fatos relevantes que vêm reciclando, pouco a pouco, essa democracia representativa do Brasil, apesar dos esforços em contrário da grande mídia.

Falo da entrevista, no programa Roda Vida, do delegado Protógenes Queiroz, que dirigiu a já famosa Operação Satiagraha, da Polícia Federal, cujo resultado mais palpável foi a prisão, por duas vezes, do banqueiro Daniel Dantas, seguida da soltura imediata – por duas vezes também, óbvio – graças à ação do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes.

No ítem resultado palpável pode ser incluído ainda a condenação do banqueiro num primeiro processo. O delegado dirigiu a operação no planejamento e longa preparação. Quando de sua deflagração, foi logo afastado num nebuloso episódio, o qual está a exigir do governo federal explicações convincentes.

Na bancada de entrevistadores estavam jornalistas notáveis, a julgar por sua atuação na imprensa: Ricardo Noblat, de O Globo (muito conhecido por seu blog), Fernando Rodrigues, da Folha de S.Paulo, Renato Lombardi, da TV Cultura, e Fausto Macedo, do Estadão (este último não o conhecia). Além, claro, da mediadora Lilian Wite Fibe.

Como disse, houve uma grande oportunidade, mas, infelizmente, esta foi desperdiçada. Os perguntadores ficaram presos num único foco: apurar sobre as possíveis falhas e possíveis desvios na execução da Satiagraha e no relatório inicial do delegado. Se esqueceram de perguntar sobre o principal (o lead – lide, cabeça, abertura – da matéria, no jargão jornalístico).

Ou seja, sobre as “façanhas” do banqueiro e sua gente. Será que os brasileiros já estão suficientemente informados sobre tais “façanhas”, no que pese o empenho, há anos, de órgãos como a revista Carta Capital? Não seria um bom serviço ao povo desta machucada nação desatar mais, numa tela de TV, os nós que atam tão intrincadas operações criminosas?

Vamos ser razoáveis. Digamos que 10% ou 20% das perguntas fossem sobre as falhas da operação. E o restante seria então dedicado a falar dos mecanismos técnicos, políticos e financeiros que propiciam esse festival de delinquência que assola o país, no seu andar de cima, para usar uma expressão tão em voga.

Para tentar ser o mais justo possível, apenas Lombardi, já no final, deu chance para que o delegado falasse um pouco sobre as acusações ao banqueiro. Duas perguntas dos telespectadores também foram neste sentido. No mais, foi pau puro no homem que conseguiu prender Daniel Dantas, Paulo Maluf, Celso Pitta, Naji Nahas, Law Kim Chong e quem mais? Incluindo a preocupação em defender uma colega alvo de acusações do delegado.



Houve um momento em que o entrevistado começa a contar sobre um encontro casual com um senhor grego, que o teria reconhecido, fez uma referência à revista Caros Amigos, mas um dos jornalistas lhe corta a palavra com uma indagação sobre outro assunto. E até aquele minutinho final, quando o mediador (mediadora, no caso) geralmente pede ao entrevistado suas considerações finais, foi suprimido (quero crer que por problema de tempo).

Dois registros:

1 – Um dos entrevistadores (não estou seguro qual deles) manifestou-se incomodado com a insistência do delegado em chamar Daniel Dantas de “banqueiro bandido”. Depois ele acrescentou: “e condenado”.

2 - Curiosíssimo o lance ocorrido com Noblat, que se atrapalhou e referiu-se a Gilmar Mendes como “Gilmar Dantas”. Creio que o episódio pode simbolizar algo mais profundo, um lapso talvez de caráter coletivo, não individual, a ser explicado por algum especialista de plantão.

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