sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Retratação? Aí tem!

Mônica Bichara


Alguém entendeu as duas notas publicadas pelo Correio, dias 30 de novembro e 7 de dezembro, se retratando com o arquiteto Fernando Frank pela campanha difamatória promovida contra ele pelo jornal no período de 11/12/2005 a 12/07/2007?

Pelos termos, não parece ter sido em cumprimento a ordem judicial.


Um dos mais respeitados arquitetos brasileiros, o Dr. Fernando Andreas Frank, profissional qualificado, autor de grandes projetos na capital baiana e em outras cidades do Brasil e do exterior”, por exemplo, são adjetivações que fogem ao texto formal (geralmente frio) de uma nota com efeito meramente legal.

E mais:Tão significativa obra eleva o conceito de arquitetura, não apenas pela sua notória qualidade, mas, especialmente, por ter sido produzida por profissional competente, dedicado e portador de irretocáveis atributos morais”.

E a foto colorida, em tamanho razoável, com destaque na página 3 da edição de domingo?

Difícil acreditar que os elogios são para a mesma pessoa tratada pelo jornal, na época (escândalo do grampo ilegal para influenciar a eleição para a presidência do TJ-BA, em dezembro de 2005), em matérias, editoriais, notas e discursos do senador ACM, como um lobista que comprava magistrados para ser favorecido em seus processos - incluindo o da demolição da Mansão Wildberger, no Largo da Vitória. Uma campanha, aliás, que enlameou todo o Judiciário baiano, classificado pelo senador como “prostituído”.

Com a morte de ACM, o jornal ficou à vontade para mudar o perfil e com essa retratação está passando recibo de que o senador não tinha limites para atacar seus desafetos.


Tratado como bandido ontem, o arquiteto se transformou em um dos mais respeitados profissionais brasileiros. O pedido de desculpas do jornal diz, ainda: “Esse manifesto representa um resgate do compromisso com a verdade e, por conta disso, é que o CORREIO vem a público declarar que o Dr. Fernando Frank não teve nenhuma responsabilidade com os fatos descritos nas referidas reportagens, reconhecendo sua honorabilidade e reputação ilibada”.

Em outras palavras, era tudo mentira do próprio jornal. O Correio, na época, não poupou o adversário A Tarde, em editorial, por não ter dado o mesmo destaque ao chamado “escândalo do grampo do TJ”. E olhe que de grampo o senador entendia como ninguém. Chegou a insinuar (insinuar???) que o concorrente tinha ignorado a denúncia por “receio de desagradar ao líder do Judiciário (o ex-presidente Carlos Alberto Dultra Cintra) ou pôr em risco o emprego de colunistas e parentes de jornalistas-consultores”.

Quanta malvadeza!!!

O senador foi processado por 24 dos 30 desembargadores do TJ pela desmoralização da Justiça baiana. O boquirroto Frank, entre outras gabações, se vangloriava na ligação “grampeada” e fartamente divulgada pela imprensa e corredores do TJ, de ter presenteado três “meninas” desembargadoras com anéis de brilhante. Uma delas, que não lembro o nome, confirmou a informação ao devolver a jóia e também divulgar carta justificando os motivos.

E a Mansão Wildberger?








Fotos publicadas no Terra Magazini




Por falar no arquiteto Fernando Frank, salvo essas notas limpando a barra dele nada mais tem saído na imprensa sobre o caso Mansão Wildberger.



Ele é o autor do projeto do espigão, de quase 40 pavimentos, que deve desfigurar o Largo da Vitória. E um dos cinco réus no processo que corre na Justiça Federal, movido pelo Ministério Público Federal da Bahia e pelo IPHAN, pela demolição parcial da Mansão Wildberger, sem alvará, em pleno domingo, dia 28 de janeiro de 2007. Os outros réus são os diretores da Liwil Construções (Luciano Wildberger Lisboa, Antônio Sérgio Maynard Frank, Félix de Almeida Mendonça Júnior e Mário Correia Dantas de Carvalho), a construtora responsável pelo projeto.


A mansão funcionava como casa de eventos e a demolição foi tão intempestiva que ignorou até mesmo eventos agendados (e pagos) anteriormente. Aí tem!

5 comentários:

José Bomfim disse...

Belo saque, Moniquinha.
O que é que motivou essa retratação tão absurda? Será que virá à tona?
Vamos aos próximos capítulos.

Anônimo disse...

É mesmo Bomfim. Grande saque de Mônica. Esse mato aí tem coelho dos gordos! Ou deu a louca no jornal.

Alvaro Figueiredo disse...

Dálhe, Moniquinha
não é à tôa q vc é boa toda
-e toda se bulindo-
com permisso,
lhe reproduzi Na Lata
kisses
alf

Anônimo disse...

Para reforçar as excelentes observações da querida Mônica:

Mansão Wildberger: crônica de uma demolição

Mônica Bichara disse...

Bom registro, Ernandes. Esse texto é importante sobretudo pela capacitação dos profissionais que o assinam.
Outra matéria esclarecedora foi publicada em A Tarde, dia 14 de fevereiro de 2007, da repórter Danile Rebouças. Segue:

"MP e Iphan vêem chance de mansão ser reconstruída"

DANILE REBOUÇAS

dreboucas@grupoatarde.com.br

A mansão Wildberger reconstruída, todos os danos causados aos patrimônios históricos e culturais ressarcidos e mais uma punição de R$ 6,5 milhões para a Construções e Empreendimentos Liwil Ltda. Tudo isso é possível, caso a Justiça Federal julgue procedentes os argumentos apresentados pelo Ministério Público Federal da Bahia (MPF/BA) e Instituto do Patrimônio Histórico, Artístico Nacional (Iphan), em uma nova ação impetrada na semana passada contra a Liwil, empresa pertencente aos herdeiros da família Wildberger e responsável pela demolição parcial do dia 28 de janeiro.




Destruição que até agora não foi bem “digerida” por arquitetos, engenheiros, ex-funcionários e a população em geral. Na internet, circulam mensagens de repúdio e há até o boato de “compra” de juiz por R$ 100 mil. A juíza Aidê Ouais, autora da ordem judicial que pedia para a prefeitura reavaliar o projeto e liberar alvará, caso estivesse pertinente com a lei, é enfática e desafia qualquer pessoa a provar que na sua carreira já tenha aceito qualquer tipo de suborno. “Tenho a consciência tranqüila e garanto que aqui ninguém tem sequer a coragem de me oferecer qualquer dinheiro que seja”, afirma, ressalvando que, se houve suborno, não foi na vara em que atua.




O grande problema é que o imóvel localiza-se na área de entorno da Igreja Nossa Senhora da Vitória, tombada provisoriamente pelo Iphan, que não emitiu autorização. Desde 2004 que os herdeiros tentam destruir a mansão, pois, possuem acordo com três grandes empresas baianas da área de construção – NM Construções Ltda, MRM Incorporadora e Frank Empreendimentos e Participações Ltda – para a venda do terreno, onde será construído um edifício de luxo, que foi projetado pelo arquiteto e empresário de uma das construtoras, Fernando Frank.




Frank, inclusive, esteve envolvido recentemente em escândalos para compra de juízes na eleição do presidente Benito Figueiredo para o Tribunal de Justiça da Bahia. Fato que reforça o boato de tentativa de suborno. Nessa época, o arquiteto presenteou pelo menos uma desembargadora com anel de brilhante, entendido como troca por seu voto. Na imprensa foi divulgada a cópia da carta em que a juíza negava o presente, já que teria uma finalidade escusa. Frank está viajando e a reportagem não conseguiu entrar em contato com ele ontem, agendando uma entrevista para amanhã. A reportagem também tentou falar com o advogado Hélio Menezes, que responde pela empresa, mas foi informada que ele está no exterior e só retorna após o Carnaval.




De acordo com a assessoria do MPF, desde o dia 7 que a Justiça tenta intimá-lo para dar prosseguimento ao julgamento da ação, mas não consegue localizá-lo. Nesse mesmo dia, o juiz Pedro Braga Filho, da 1ª Vara da Justiça Federal na Bahia, suspendeu os efeitos dos alvarás de construção e de demolição emitidos pela Superintendência de Controle e Ordenamento do Uso do Solo do Município (Sucom) para a Liwil. O MPF também instaurou procedimento administrativo para investigar a atuação de funcionários da Sucom na liberação do alvará.




Até o momento, os funcionários da empresa também não sabem como ficará a situação deles. De acordo com o vigia Antonio Nascimento Vasconcelos, eles receberam o salário de janeiro, junto com a notícia de abertura de uma nova casa de eventos, para onde seriam relocados. “Não houve nenhuma reunião, nem ninguém tocou no assunto dos nossos pertences que ficaram dentro da mansão. Pedem para ter paciência”, diz.




A diretoria do departamento da Bahia do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-BA), que até então não havia se pronunciado, divulgou na segunda-feira uma nota condenando o fato. O IAB questiona pontos específicos da legislação municipal municipal que poderiam impedir a liberação dos pareceres técnicos, assim como questiona o porquê das decisões do Judiciário, em Salvador, terem se sobreposto à legislação urbana e de proteção ao patrimônio histórico.




RESPALDO – “Foi uma demolição intempestiva, sem respeitar os eventos que estavam marcados e os próprios funcionários. Se ela fosse tão certa, não haveria necessidade de ser dessa forma”, pontua o diretor do IAB-BA, Paulo Ormindo.




O procurador geral do município, Pedro Guerra, reitera que havia respaldo técnico da legislação municipal para o empreendimento e considera que uma decisão judicial sob mandado de prisão deve ser cumprida. “A liberação do alvará aconteceu porque a justiça mandou expedir e ela mesmo afastou o tombamento da sentença”, reafir ma.




No entanto, a juíza Aidê Ouais afirma que a Justiça não obrigou ninguém a fazer nada. Na última execução publicada no Diário do Judiciário (dia 2 de fevereiro), Aidê Ouais destaca que as ações foram antecipadas, já que ainda não havia despacho final das respostas dadas às últimas solicitações. “Antes, entretanto, que os autos retornassem para receber o despacho, foi veiculada a notícia de que o imóvel objeto desta ação estava sendo alvo da ação demolitória por decisão judicial, o que não ocorreu”.