sábado, 31 de janeiro de 2009

Da resistência armada ao Eco Sexy

Jadson Oliveira
Moça e cartazes da campanha do sexo em defesa da floresta


Estou cansado, há muito tempo não trabalho tanto. Garanti à nossa editora Joana D'Arck que faria matéria diariamente neste Fórum Social Mundial (FSM) de Belém do Pará. E estou cumprindo o trato.



Bem, vou conversar informalmente com vocês, para descontrair.Não sabia o tamanho da loucura que é o FSM. Você transita de temas fundamentais hoje para o destino da humanidade até coisas que, pelo menos aparentemente, não seriam tão sérias. Mas pode ter aí uma boa dose de preconceitos da esquerda mais ortodoxa, onde eu talvez me encaixe. Como disse no título, transitei neste sábado, dia 31, da luta armada ao sexo em defesa da floresta, passando pelo drama das nações e povos sem Estado, pela Marcha da Maconha e pelo Abraço Grátis. Confira nas fotos.



Nações sem estado


É a primeira vez que o FSM, agora na sua nona edição, tem um espaço específico para a luta dos povos por sua autodeterminação. Foi o tema que mais me atraiu (ver matéria anterior sobre o povo Mapuche, do Chile, pegando o gancho da nova Constituição da Bolívia). Me concentrei um pouco nele, pois o Fórum abarca uma gama imensa de assuntos e a gente fica meio perdido, ainda mais levando em conta o calor e a chuva nesta época, além das distâncias dentro dos dois campi das universidades federais do Pará (UFPA) e Rural da Amazônia (UFRA).


O organizador da iniciativa foi o Centro Internacional Escarré para as Minorias Étnicas e as Nações (Ciemen), da Catalunha, um dos mais de 30 povos listados como sem Estado. Quer dizer, são nações, povos, com sua língua, história, território, cultura, costumes, etc, etc, que não estão organizados em Estado. Muitos lutam pela emancipação política, pela independência, ou por direitos coletivos, em uns casos mais amplos, em outros mais limitados, cada um dentro de determinada realidade.


Os da Catalunha, por exemplo, são um dos três povos que vivem tal situação na Espanha. Os outros são os bascos e os galegos (País Basco e Galícia). No território hoje da França há cinco situações semelhantes: além de parte dos catalões e bascos, há ainda a Córsega, Bretanha e Occitània (nome francês, não sei como é em português).


A tragédia dos palestinos


O mais conhecido caso é a Palestina, na mídia todos os dias devido à constante agressão israelense. Os palestinos tiveram seu território usurpado em 1948 para a criação do Estado de Israel, cujo povo, espalhado por todo o mundo, vinha da tragédia do holocausto. Desde então, os palestinos têm de sustentar uma guerra desigual contra um exército superarmado pelo império dos Estados Unidos.




Mesa dos trabalhos do Espaço pelos Direitos Coletivos dos Povos



O representante da Palestina, Yousef Habash, fez um relato dramático durante os debates, destacando o massacre de crianças e mulheres na última investida contra a Faixa de Gaza. Defendeu, claro, o direito de seu povo à resistência armada, assunto que gerou uma extensa discussão. A maioria dos debatedores expressou-se claramente em favor da resistência armada, quando falta o espaço para a palavra. Foi lembrada a famosa constatação, segundo a qual, "a guerra é a continuação da política por outros meios" (não sei o autor).


Não cabe, portanto, chamar de terrorista a quem apela para as armas para defender sua nação. Até individualmente, matar em defesa da própria vida é justificável. O problema, no caso dos palestinos e de outros – argumentaram – não é reconhecer o direito ou não ao uso de armas, tal direito está patente. O caso são as condições para isso, a necessidade de se evitar os massacres, o genocídio, as tragédias.


Marta Rovira (Catalunha), Oier Imaz (País Basco) e Yousef Habash (Palestina)



Arnau Flores, da Catalunha
O problema de começar a falar dos palestinos é ter de parar. Vamos em frente, ainda neste tema geral. Os curdos (Curdistão) são hoje a maior população entre as nações oprimidas, sem Estado próprio. São 40 milhões de pessoas que vivem em territórios de quatro países: Turquia, Irã, Iraque e Síria, conforme informou Arnau Flores, um catalão que atendia aos visitantes no estande do Ciemen.


Há a situação dos povos indígenas dos Andes, na América Latina, que são maioria entre os habitantes da Bolívia e Equador e têm forte presença no Peru, México e Chile. Ainda os aborígenas australianos. Na América Latina, há também os casos da Guiana Francesa e das ilhas caribenhas Guadalupe e Martinica (restos da colonização francesa). Porto Rico é outra ilha do Caribe que faz parte dos Estados Unidos. Há ainda vários casos, como o Tibet (China), Chechênia (Rússia), Escócia (Reino Unido), a situação especialíssima dos ciganos, povo nômade espalhado pelo mundo, etc, etc, etc.



Pista interna do campus da UFRA, onde tudo acontece



Carnaval da Bahia?


Bom, chega de "assunto sério"? Pois bem. Por volta das 15 horas deste sábado, deixo a tenda do Espaço pelos Direitos Coletivos dos Povos, com a cabeça cheia dessas discussões, a maioria falando espanhol e inglês (havia tradução simultânea), e tomo a via interna do campus da UFRA, onde parece que tudo acontece, em meio a um imenso acampamento, ambulantes, indígenas, figuras exóticas, gringos, negros, carros de bombeiros, ambulâncias, bicicletas.


Um baiano vivendo por aqui já tinha me dito. "Ás vezes quando estou no Fórum me sinto como se estivesse no carnaval da Bahia". Verdade. Faltam o barulho infernal dos trios e a chatice do axé-music, além, claro, da violência. E há o fato de milhares de pessoas pelas diversas tendas debatendo a busca de caminhos para uma vida melhor, sem as mazelas do capitalismo. Mas que parece, parece.


Ia eu, dizia, pela pista interna do campus, bebendo um suco de cupuaçu... e topo com uma moça seminua, sentada junto de cartazes, cercada de curiosos. Numa faixa, "fuckforforest.com", que, no meu inglês limitado, pensei que estavam mandando a floresta pra porra. Mas não, é "fazer sexo pela floresta, em favor da floresta". Outra: "Saving the planet is sexy" (Salvar o planeta é sexy). Me explicaram que é uma campanha pelo reflorestamento. Não entendi bem. Quem quiser saber mais, entre na Internet.





Quando resolvo ir para o campus da UFPA, onde está a Casa da Comunicação (esquema à disposição dos jornalistas) – ainda tinha que almoçar -, me deparo com a Marcha da Maconha. Muita animação, com palavras de ordem em favor da legalização da droga, inclusive apelos ao presidente Lula. Durante o desfile, dentro do próprio campus, foi recomendado, segundo os organizadores, que os participantes não fumassem.


Um pouco mais cedo, houve também uma turma muito simpática que circulou pela mesma pista, ostentando o cartaz Abraço Grátis e, óbvio, patrocinando um festival de amigável confraternização. Quando estava almoçando numa barraquinha em frente à entrada da UFPA, ainda me apareceu uma novidade, umas mil pessoas participavam de uma corrida, uma maratona pela Avenida Perimetral. Não tive disposição de tirar a máquina para fotografar. Fico devendo esta.


Viva a diversidade!

Jadson Oliveira

Boaventura de Souza

O Fórum Social Mundial (FSM) é, por excelência, o espaço para se exercitar a diversidade. O número e a variedade de idéias em circulação nos campi das universidades federais do Pará (UFPA) e Rural da Amazônia (UFRA), em Belém do Pará, nestes seis dias de FSM, são impressionantes. Os depoimentos a seguir, colhidos de alguns participantes nesta sexta-feira, dia 30, dão uma pequena amostra dessa realidade:

Boaventura de Souza – (O repórter teve a ventura, sem trocadilho, de topar com o renomado professor e sociólogo português que acabava de palestrar sobre “Crise civilizatória e utopia para o século 21”. Havia uma pequena fila para se dar uma palavrinha com ele ou mesmo tirar uma foto ao seu lado. Como uma celebridade! Entrei na fila e perguntei: “Professor, por que participar do Fórum Mundial?”




para uma aliança entre os movimentos sociais. Muitos conhecimentos circulam por aqui e isso é importante”.

Jair dos Santos, 45 anos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas (SP): “Nós, metalúrgicos de SP, participamos de todas as edições do Fórum. Entendemos como um espaço de diálogo global, o que permite conviver com as mais diferentes culturas e ideologias, numa perspectiva de que um outro mundo é possível”.



Jéferson Soares, 25 anos, estudante de Jornalismo, gaúcho, blogueiro, está participando e cobrindo: “É importante estar por dentro das discussões sobre nossa realidade, do Brasil e da América Latina”.

Renato Cinco, 34 anos, sociólogo, do Rio, dirigente da Marcha da Maconha, ligada ao movimento Marijuana Global March, criado em Nova York em 1999 (para este sábado, dia 31, às 15 horas, está programada a marcha propriamente dita no campus da UFRA): “O Fórum é importante para a articulação e politização do nosso movimento – inserir o debate dentro da discussão geral visando a transformação da sociedade. Nosso objetivo principal é a legalização da maconha, para diminuir a violência e eliminar as prisões e as mortes do povo pobre, os que realmente pagam o preço da criminalização”.

Terezinha Maglia, 52 anos, funcionária pública, de Brasília, estava distribuindo panfletos: “Trabalho com os povos indígenas e estou no Fórum fazendo uma atividade de divulgação sobre os dispositivos contidos na Constituição brasileira referentes a eles”.

Le Cocq Alain, 68 anos, francês da cidade de Rennes, morando há quatro meses na Guiana Francesa, membro de uma comunidade religiosa: “Estou com um grupo de 60 pessoas, ligado ao Cáritas France. Tenho grande prazer em conhecer outras idéias, outros pontos de vista. Realmente é impressionante ver a capacidade de entendimento dos jovens, buscando a transformação do mundo”.

Priscilla Sabajo, 26 anos, secretária, da Guiana Francesa: “O Fórum é um momento apropriado para se expandir os conhecimentos, a visão das coisas do mundo. Encontramos muitas pessoas com problemas semelhantes, como os de imigração e de destruição das florestas”.

Alejandra Scampini, 35 anos, uruguaia, do movimento de mulheres Action Aid Américas: “Participei de todos os fóruns, como feminista é importante que um outro mundo seja possível, com empoderamento das mulheres e equidade de gêneros. Desde 2001, da primeira edição do FSM, está claro que a construção de alternativas só poderia ser feita com alianças através dos movimentos. O Fórum desde ano é importante especialmente pelo momento histórico na América Latina, devido a governos mais progressistas em alguns países, como Venezuela, Equador, Bolívia, Paraguai e Brasil. É importante também o encontro em Belém, devido a questões como a Amazônia, os povos indígenas e os afrodescendentes”.



Virgínia Bertino, Lya Moret e Mariana Dias, todas com 19 anos, do Rio, estudantes de Geografia, da Uerj: “Nosso objetivo aqui é trocar experiências e adquirir conhecimentos. Assistimos a palestras sobre assuntos que nos interessam, como segregação social e criminalização dos movimentos sociais. É importante trocar idéias com pessoas de todos os lugares. Já participamos de debate sobre recursos hídricos na Amazônia, protesto da população ribeirinha contra barragens no Rio Madeira e vimos uma palestra do professor Boaventura sobre a crise do neoliberalismo”.






Baianos no FSM de Belém

A jornalista Zoraide Vilasboas, do Movimento Paulo Jackson, fez uma exposição na quinta-feira, dia 29, sobre os graves problemas socioambientais causados pela exploração do urânio no município de Caetité, no sudoeste da Bahia, dentro do tema Nuclearização na América Latina – A volta de um velho fantasma?

Ela denunciou irregularidades cometidas pela Indústrias Nucleares do Brasil (INB), incluindo a falta de observância das exigências do Ibama, bem como a ocorrência de acidentes, tratados sempre pela empresa como “rotinas operacionais”. A contaminação provocada pela ação da INB vem sendo objeto de denúncias do Greenpeace.

Já nosso cantor e compositor Wilson Aragão, conhecido do grande público pela parceria com Raul Seixas, no sucesso Capim Guiné, dá uma mostra de seu talento no encerramento do debate sobre a produção literária alternativa, na noite desta sexta-feira, dia 30, no campus da UFPA. A coordenação do evento é do também baiano Rui Santana (conhecido em Belém como Rui Baiano), que teve expressiva atuação na Bahia como sindicalista e produtor musical.

Outro baiano presente no Fórum Social em terras do Pará é o professor Jonicael Cedraz, velho lutador em prol do desenvolvimento das rádios e Tvs comunitárias. Ele é dirigente da Abraço-Ba (Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária) e vem trabalhando para a realização da Conferência Nacional de Comunicação.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Pioneirismo da nova Constituição boliviana

Jadson Oliveira



A nova Constituição da Bolívia, aprovada com 61% dos votos no referendo do último domingo, dia 25, é pioneira na América Latina ao reconhecer o Estado plurinacional, ou seja, explicitar em seus dispositivos a autonomia dos povos e nações indígenas. É uma das reivindicações dos povos originários da região andina, que vêm avançando politicamente também no Equador, Peru, Chile e México.

Claudio Carihuentro

No Chile essa luta é liderada pelo povo Mapuche, nação indígena com 1,5 milhão de habitantes (mais 400 mil na Argentina), protagonista de embates contra governantes do país nos últimos anos, incluindo a atual presidente Michelle Bachelet. A abordagem do tema foi feita nesta quinta-feira, dia 29, por Claudio Carihuentro, que representa organizações Mapuche no Fórum Social Mundial (FSM), em Belém, capital do Pará.

Ele participou da mesa de debates no Espaço pelos Direitos Coletivos dos Povos, onde se discutiu a situação de povos e nações sem estado, como é o caso dos indígenas e também dos povos do País Basco, da Catalunha, Galícia, os curdos, bem como o caso conturbado dos palestinos, na mídia todos os dias devido aos massacres perpetrados pelo exército de Israel.

Representantes de 30 povos nessa condição estiveram no FSM. Participaram dos trabalhos estudiosos reconhecidos internacionalmente, dentre os quais os sociólogos Emir Sader (brasileiro) e Boaventura de Souza (português). Pela primeira vez, o direito à autodeterminação é um dos 10 eixos temáticos do Fórum Social.

Claudio Carihuentro diz que, enquanto princípios (deixando de lado questões específicas de cada realidade), os mapuches e demais povos andinos defendem exatamente o definido na nova Carta Magna boliviana: Estado plurinacional, autonomia territorial e representação própria junto ao governo central. (Para se entender melhor: haverá na Bolívia representantes eleitos por cada povo indígena para atuação junto ao presidente da República, independentemente de deputados ou senadores, por exemplo).

Ele chama a atenção para não se confundir com a autonomia pregada pelas oligarquias da chamada Meia Lua, tendo à frente o estado de Santa Cruz, as quais, na verdade, querem autonomia na exploração dos recursos naturais, especialmente o gás e o petróleo. Pregam, de fato, o separatismo, visando boicotar o processo de mudança liderado por Evo Morales, o qual, em última análise, institui a exploração dos recursos do país em favor do povo.

Luta do povo Mapuche

Um breve retrospecto da luta dos Mapuche desde a época de Salvador Allende, o primeiro socialista a ser eleito, dentro dos preceitos na nossa democracia representativa. Allende efetuou a devolução das terras indígenas, o que foi anulado logo após a tomada do poder pelos militares sob o comando de Pinochet, em 1973.

Com a redemocratização, foi fechado um acordo com os indígenas, segundo o qual terras foram devolvidas, eles passaram a valorizar sua própria língua e a usufruir alguns outros direitos. Em troca, os Mapuche restrigiam novas demandas por terra às vias legais. “Mas, a luta por vias institucionais não gerou resultados satisfatórios”, conta Carihuentro.

“Em 1994 – continua – iniciamos as ocupações de terras e os protestos de rua”. E as forças governamentais responderam com o incremento da repressão policial. O ex-presidente Ricardo Lagos usou a chamada lei antiterrorista, parida pela ditadura de Pinochet, enquanto a atual Bachelet, de corte mais à esquerda, abriu mão de utilizar tal legislação. Mas os choques e a repressão prosseguem. Claudio Carihuentro contabiliza, na recente fase democrática, dois mortos e 50 presos entre os indígenas.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O Fórum Social é muito mais

Jadson Oliveira e Manoel Porto (fotos)


Não só de debates e buscas teóricas para “um outro mundo possível” vive o Fórum Social Mundial (FSM), essa coisa ainda disforme para a grande maioria dos quase 7 bilhões de seres humanos que vivem no planeta Terra. Mesmo para grande parte dos 100 mil que estão agora em Belém do Pará, o âmago do evento gira mais em torno de uma festiva confraternização, envolvendo gente – muitos jovens – de cores, aspectos e línguas diferentes.
Os campi e as imediações das universidades federais do Pará (UFPA) e Rural da Amazônia (UFRA) se tornam um burburinho, ganham uma movimentação e um colorido singulares. No interior dos campi são armadas dezenas de barracas para um variado comércio – livros, revistas, artesanatos, camisetas divulgando especialmente o próprio Fórum, etc, etc. Os ambulantes também participam ativamente da “festa”.


Organizações sociais das mais variadas atividades montam suas próprias barracas para vender e divulgar suas lutas e seus produtos ideológicos, num rico “mercado” formado por mentes tendentes à militância social. Grupos musicais passam o dia em exibições, atraindo especialmente os jovens, mas também os “coroas”, muitos ávidos para conhecer e compartilhar novas amizades e novos namoros, ao som, por exemplo, do carimbó, dança sensual típica do Pará.

Muitos aproveitam uma platéia numerosa e circulante para, num palco disponível e serviço de som, defender suas bandeiras de luta ou denunciar atrocidades sociais, como o recente massacre do exército de Israel contra os palestinos da Faixa de Gaza.


Enquanto isso, estudiosos e intelectuais discutiam ontem temas como Afro-negritude e Quilombolas, Espaço Inter-religioso, Reforma Urbana, 50 Anos da Revolução Cubana e Povos Indígenas e Defesa da Floresta, conforme a extensa programação difundida pelos coordenadores do FSM.

Nas proximidades da entrada das duas universidades, era intenso também o movimento dos barraqueiros e ambulantes, aproveitando, claro, dias de faturamento excepcional. A UFRA e a UFPA, onde ficam os acampamentos da juventude e dos indígenas, estão localizadas em bairros de aspecto pobre (Terra Firme e Guamá, respectivamente).


As duas universidades são ligadas pela Avenida Perimetral (o nome oficial é Perimetral do Conhecimento, mas ninguém usa), em cujas laterais dá pra se ver as obras de urbanização feitas por causa do Fórum, mas ainda inacabadas, bem como trechos com esgoto correndo a céu aberto.














Muitos dos que participaram ontem das atividades nos dois campi sofreram com a qualidade dos serviços. Para se chegar à UFRA ontem por volta do meio-dia, por exemplo, tiveram que enfrentar um bruto engarrafamento. Boa parte preferiu completar o trajeto a pé. E faltou almoço tanto na UFPA como nas barracas próximas. Água gelada e cerveja também andaram escasseando. Mas nada disso, pelo que se pôde observar, tirou o bom humor do pessoal. Afinal, “um outro mundo é possível”.

Fórum Social até debaixo d'água

Jadson Oliveira
Manoel Porto (Fotos)


A chuva – previsível nas tardes de Belém do Pará nesta época – não conseguiu estragar a animação das milhares de pessoas que abriram com um desfile carnavalizado o nono Fórum Social Mundial (FSM),ontem, dia 27. Dança-se até debaixo d'água em busca de "um outro mundo possível", ou seja, em busca de alguma alternativa que supere o neoliberalismo ou mesmo o capitalismo.


Uma variedade espantosa de temas e "fantasias", marca já registrada de tais eventos, tomou conta de ruas centrais da capital paraense, dando o tom do que está por acontecer até primeiro de fevereiro. Os números divulgados pelos organizadores são eloquentes: participação de 100 mil pessoas e 5.680 organizações de mais de 150 países, em torno de 2.400 atividades programadas.






No início da marcha (na praça ao lado da Estação das Docas) houve exibição de rituais da cultura negra, como candomblé e capoeira. E no final (Praça do Operário, bairro de São Brás) foi a vez das delegações indígenas apresentarem denúncias, reivindicações e conquistas que vêm marcando seus 500 anos de resistência.
















O jeito de ser

Quem ficasse de lado observando a passagem dos "blocos", ao som de marchas de carnaval e muita batucada, com chuva e sem chuva, gente de caras e idiomas diversos, poderia até se perguntar se tem como sair alguma coisa séria de tanta balbúrdia. Mas sempre sai, é o jeito do FSM. E os gritos de guerra?


"Ei, ei, ei, Jesus é nosso Rei", ouve-se o bordão dos evangélicos; "Não somos só bunda e peito", gritam as componentes da Marcha Mundial das Mulheres defendendo o direito ao aborto, enquanto os da luta pela moradia recitam "ocupar, resistir prá morar" e outros anunciam: "Te liga, oh estrangeiro, a Amazônia é do povo brasileiro".



Um desfile de irreverência, exotismo e variedade nas palavras de ordem e nas indumentárias. Operários da construção civil vêm ostentando as bandeiras do PSTU e da Conlutas (central sindical), "contra a crise capitalista a solução é o mundo socialista". A turma do PC do B segue, com caro de som, divulgando suas lutas e a CTB (outra central sendical). O PT também está presente com grande delegação, assim como o Psol.

"Eles matam e desmatam"

Agora são bandeiras de Cuba que tomam a avenida e a faixa é "contra o bloqueio americano a Cuba". Seguem a Frente Nacional dos Petroleiros, a Força Sindical e a CUT. Depois um ônibus com a "Caravana dos DJ'S", a "Aldeia da Paz" brigando contra a guerra e a pobreza e um grupo de teatro de Recife formado só de mulheres, com pouca roupa, fantasiadas de onça - "Loucas de Pedra Lilás" - com refrões como "eles matam e desmatam".




Aparece ainda a Liga Brasileira de Lésbicas, faixas condenam a redução da maioridade penal e saúdam a Lei Maria da Penha e a "saúde pública universal". Presente a luta dos povos de Rondônia contra barragens no Rio Madeira. Um grupo animadíssimo, com orquestra e tudo mais, exalta "beber e cair".


E o desfile continua (um oficial da PM calculou que havia mais de 50 mil pessoas): "Povo do Iraque e Palestina, sua luta continua na América Latina", um cartaz mostrava uns terroristas, pingando sangue, no centro a cara do ex-presidente dos Estados Unidos, George Bush. Seguiam as feministas "contra o machismo, contra o capital, contra o terrorismo neoliberal".
Um "bloco" fazia muito barulho e sucesso: "Chega de Sarney, xô Sarney, ninguém aguenta mais", dizendo falar em nome de várias entidades do Maranhão e Amapá. Um boneco com aquele bigode inconfundível e outro representando a filha Roseana ilustravam o espetáculo. E mais: "Economia solidária, sociedade igualitária".






Guerreiros indígenas em marcha




E enquanto guerreiros indígenas ensaiavam marchas e cantos de guerra, sob o assédio de fotógrafos e cinegrafistas, o Greenpeace exibia um enorme boneco de um boi, pregadas no corpo bandeiras de países que consomem carne bovina. Era a denúncia do processo de desmatamento da Amazônia para o cultivo de pastagens.


Nesta quarta-feira, dia 28, será iniciada a maratona de plenárias, conferências, palestras, oficinas e eventos culturais e esportivos. A programação dedica o dia ao Pan-Amazônia - "500 anos de resistência, conquistas e perspectivas afro-indígena e popular"-, com muitos assuntos regionais, mas também gerais, a exemplo de direitos humanos e luta contra a criminalização dos movimentos sociais.




Os coordenadores do FSM acreditam que três temas vão predominar: crise financeira internacional, mudanças climáticas e alternativas aos modelos de desenvolvimento. Os trabalhos se dão nos campi da Universidade Federal do Pará (UFPA) e da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA).



Lula e Chávez no FSM

Espera-se a presença de cinco presidentes da América Latina: Lula, Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Balívia), Fernando Lugo (Paraguai) e Rafael Correa (Equador). Está previsto o encontro dos cinco na quinta-feira, dia 29, numa atividade paralela ao Fórum, no hangar do Centro de Convenções.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Linguagem jornalística há 100 anos

(Ao velho Araka, que usava "indumentária" quando redator da TB, especialmente a primeira nota)
Jadson Oliveira
O Jornal do Commercio, de Manaus, tem mais de 100 anos

O Jornal do Commercio (assim com dois emes e sem acento), aqui de Manaus, que completou 105 anos no último dia 2, reimprime diariamente uma página do início de sua vida, fazendo-a circular junto com sua edição atual. Pesquei algumas notas de duas de suas edições, uma de 25/11/1912 e outra de 13/01/1913.



Página do Jornal do Commercio reimpressa de edição de 1912

São verdadeiras pérolas para os estudantes de Jornalismo Comparado. Interessante e engraçado para quem curte essa coisa de escrever e ler notícias. Gostoso apreciar o contraste com a linguagem e a técnica em vigor hoje, bem como com os costumes, o comportamento, os conceitos e preconceitos da sociedade atual. Mantenho a ortografia da época, pois creio que dá um sabor especial.

A eterna desculpa – Vem sob o título OCCORRENCIAS (Desculpe Araka, não é só pra você, é pra todos nós cachaceiros, sem esquecer, jamais, José Irecê):
"O alcool é a eterna desculpa de todas as acções reprovaveis. Individuos ha de tão baixos sentimentos que se embriagam para, ebrios e cambaleando, perpetrar toda a sorte de depredações, toda a especie de desordens.
Estava bebado, diz-se em justificativa.
É o caso de Francisco Alves Feitosa. Absorvendo bebidas sem conta, andou hontem a promover arruaças lá para as bandas da praça de S. João.
Mas a policia, chegando-lhe ao pé em bôa hora, applicou-lhe o correctivo que se fazia necessario."
Amor puro e casto (esta, também de OCCORRENCIAS, é a legítima defesa da moral e da honra):
"Sergio Rodrigues da Costa tem seu domicilio na colonia Oliveira Machado.
Também reside naquele aprasivel logarejo Joanna Francisca do Amor Divino, com sua filha Luiza Maria da Conceição.
Sergio apaixonou-se por Luiza; mas não soube (ilegível) nesta paixão um amor puro e casto, idealmente santo. Fez-se d. Juan Tenorio e conseguiu, por meio de fallazes promessas de casamento, esmagar aos pés a corôa symbolica daquella virgem que o amava.
A mãe da pobre victima contou o caso à policia do primeiro districto, cuja autoridade de permanencia mandou proceder a exame medico legal, constatando o dr. João Dias a veracidade da accusação.
Sergio Costa ficou detido naquelle posto policial".
Aggressão e ferimento – É o título, com direito a subtítulo ou "apoio", como dizemos hoje: "Houve hontem um sarilho à rua Lobo d'Almada".
São cinco parágrafos (o espaço é pequeno, a página, como se pode ver na foto, é dividida em sete "medidas"). Os três primeiros, o famoso "nariz de cera" no jargão das redações, são assim:
"É frequente se vêr, no turbilhão da humanidade, individuos turbulentes, dispostos sempre a perturbar a ordem, a maltratar o seu semelhante sem piedade e sem constrangimento.
Para esses, nada ha de mais natural que vibrar uma bofetada, atirar com uma bengala sobre o corpo do proximo, aggredir estupidamente a quem quer que seja.
É quasi uma nevrose, o goso de ver soffer a outrem, o desejo de se sentir mais forte e provar que o é realmente".
Aí no quarto parágrafo, o redator fala da agressão propriamente dita e, no último, arremata: "A arma em acção foi o guarda-chuva, que manejado com habilidade e arremessado com força, produziu um ferimento no couro cabelludo do paciente".
O tempo ontem – Primeiro tem uma notinha, sob o título "Hontem", e logo acima há o título maior "Omnibus". Não consigo atinar com a relação entre uma palavra e outra. (Depois da nota "Hontem", segue outra intitulada "Hoje", onde estão relacionados audiências na Justiça, missas, leilões, programação de teatro, cinema, plantonistas de delegacias de polícia). Ei-la:
"Manhã alegre, morna e calma.
A tarde começou limpida e clara, tendo por volta das trez horas cahido um aguaceiro forte e tempestuoso, de relampagos fuzilantes e trovões que ribombavam com estrepido.
A noite foi escura e fresca."
Na outra edição, a mesma coisa - "Omnibus" e "Hontem" (o redator capricha):
"O dia de hontem, embora quente, não foi todo elle de calor asphixiante e insupportavel.
A manhã, illuminada nas reverberações de um sol que fuzilava no céo escampado, tornou-se ligeiramente morna.
A tarde, abrasadora às primeiras horas, chegou a ser agradável das trez horas em diante.
A noite foi suave. O céo apresentava pyramides em profusão de nuvens accumuladas, pelo meio das quaes a lua, divinamente branca, boiava serena e placida numa esteira de frócos alvacentos".

As queixas do povo – Reclamações que nos trazem:
"Uma família, residente numa casa em frente à villa Georgett, pede por nosso intermedio as vistas da policia para o procedimento dos moradores d'uma "republica", na localidade n. 6, da mencionada villa, que têm por habito vir à janela em trajes de Adão"


Os Buliçosos – O que elles fazem...
"Uma rêde de pesca, uma bonita e bem feita rêde de pesca, pertencente a Damião José Malheiro, desapparecera como por encanto.
Não houve resa, nem promessa, nem nada que fizesse voltar ao velho aprisco o querido objecto.
Pois hontem Damião teve a suprema dita de avistal-a em mãos de Manoel Dias da Silva e correu a contar o caso à segunda delegacia.
Chamado ao posto policial Dias declarou haver comprado a rêde a um negro que se dizia cosinheiro do Chandless."
Os insultos de Thereza – Com aquele título OCCORRENCIAS, mas da outra edição, vão aí, encerrando o espetáculo, duas das seis notas publicadas:
"Thereza Gonçalves, residente no igarapé de Manáos, foi hontem multada em 30$000, pela policia do primeiro districto. Deu causa a isto, uma queixa contra si, apresentada à primeira delegacia por Benedicto Lopes, que disse à autoridade de permanencia ser constantemente victima de insultos de Thereza".
"Raymundo Silvestre da Silva, individuo sem emprego, estudou um meio de poder angariar a vida graciosamente... e mãos a obra. Arranjou uma "arapuca" lá para os Artigos bellicos e haja pegar galinhas. Já estava com oito dentro de um sacco quando appareceu a praça."



Waldir Pires dá aula de cidadania

José Bomfim
















Dr. Waldir, diplomaticamente, fecha qualquer espaço ao autoritarismo

Chegamos à metade do primeiro mês do Ano-Novo, mas vou falar de assuntos referentes a 2008. O comentário deveria ter sido feito quando os fatos aconteceram, mas a roda-viva faz a gente adiar tanta coisa importante. Bom, destaco a educação, diplomacia, mas nem por isso deixando de ter a altivez que se espera de um cidadão digno, do Dr. Waldir - como a maioria chama carinhosamente o ex-ministro e ex-governador Waldir Pires.

No início de dezembro, reportagem de A Tarde sobre a sessão no Tribunal de Justiça da Bahia do julgamento do assassino de Natur de Assis, afirmava que o desembargador Gilberto Caribé - me lembra o colega dele do STF, Gilmar Mendes, não sei porquê - teria dito, a respeito da presença de Waldir Pires e Nilmário Miranda, então ministros do governo, no júri, em Feira de Santana, em 2004, que eles estavam no plenário “como se não tivessem nada para fazer”.

Utilizando o Espaço do Leitor, em 5 de dezembro, Waldir Pires comentou:

“É claro que compareci ao Tribunal do Júri, na cidade de Feira de Santana, em abril de 2004, com o sentimento do maior respeito à dignidade da pessoa humana, para a afirmação, entre todos, do maior dos seus direitos, que é o da vida. Não se pode tratar, levianamente, o direito à vida. O Tribunal do Júri é a grande instituição constitucional, simbólica, republicana, para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida. O assassinato do cidadão Natur de Assis, em Ubaíra, no ano de 2001, sensibilizou-nos, profundamente, a todos. A mim, sobretudo, porque conhecera e convivera com seu pai, poeta baiano de nossa geração, meu colega de ginásio, no Clemente Caldas, de Anísio Melhor, em Nazaré das Farias; e, posteriormente, também conhecera sua mãe, grande lutadora pelos Direitos Humanos, Kátia Assis. O crime que tirou a vida de um homem como Natur de Assis, decente, pacífico, honrado pela estima da população, em Ubaíra, foi um assassinato brutal, pusilânime, de um cidadão desarmado, que caminhara, sozinho, para tentar convencer, pelo aconselhamento, os facínoras que estavam intimidando a cidade e ameaçando famílias, dezenas de pessoas abrigadas e protegidas pela tranca das portas frágeis de uma residência. Meu ato de ir à Sessão do Júri tinha o sentido pedagógico, como ministro de Estado, da construção democrática de nossa cidadania. A lição de um dever que nos incumbe a todos, sobretudo, aos que transitória ou permanentemente, se encontrem no topo de funções do Estado Democrático, dos seus poderes Legislativo, Executivo ou Judiciário, a fim de que mereçam a credibilidade da população. Ensinar o apreço da regra fundamental da Democracia: ‘Todo poder emana do povo’. O senhor desembargador Caribe declarou que foi voto vencido e único do Tribunal de Justiça da minha terra. Voto único e inexplicável, salvo, quem sabe! Pela complacência com os tempos de arbítrio, que produz a impunidade, e que a Bahia e a Nação esperam que não retornem jamais” – Waldir Pires.

Dias depois, Gilberto Caribé, negou que tivesse dito o que a reportagem afirmara sobre a presença dos ministros. O jornal não se posicionou se o texto do repórter estava equivocado ou se o desembargador criticara mesmo a presença dos ministros no júri.



Prédio do TJ, apelidado de Sukitão por motivos óbvios


Desembargadora não disse a que veio



Quando se fala em Tribunal de Justiça da Bahia, no exercício de 2008, vem logo a lembrança da obscuridade sobre a venda de sentenças. Impossível não lembrar. Ficou provado que advogados compravam sentenças. Advogados chegaram a ser presos, lembra-se? Sim, mas e os vendedores de sentença?

A desembargadora Silvia Zarif chegou a anunciar que em coletiva de imprensa revelaria os nomes dos vendedores de sentença. A expectativa foi geral, afinal, quais seriam os juízes e desembargadores que estavam fazendo papel de agente duplo?

Chegou o momento esperado e veio a decepção, Sílvia Zarif ficou com a opinião do desembargador Gilberto Caribé de que melhor seria não revelar os nomes dos vendedores. Resultado: advogados libertados e, pelo menos, oficialmente, nenhuma revelação sobre os vendedores de sentença.

No Espírito Santo, a Polícia Federal chegou a prender o presidente do Tribunal de Justiça de lá. No Maranhão, a venda de sentenças também estourou e a polícia agiu, agora em janeiro. Na Bahia, optou-se pelo abafamento.

A nuvem paira até hoje no TJ da Bahia. Um caso muito sério, a venda de sentenças, está fadado ao esquecimento. Do governo estadual, que em outros tempos representaria a esquerda no poder, não se ouviu nem um piu, aliás, nem muxoxos. E a imprensa, que começou a averiguar o caso com alguma tenacidade, esqueceu rapidinho.

Assim, a primeira mulher a presidir a maior instância judiciária do Estado da Bahia fica lembrada por esse triste – para a democracia e a informação pública – episódio. Mas não é só. A desembargadora que assumiu falando em mudanças de horário de atendimento ao público nas repartições judiciárias, foi manchete em 3 de dezembro nos jornais. Ela explicava que houve “desvirtuamento proposital” do objeto de licitação para o TJ adquirir tapetes estilo persa. Disse à imprensa que “foi uma coisa orquestrada” e que teria sido um crime, “que vai ser apurado”. A apuração deve ser muito sigilosa, porque ninguém soube nem falou mais no caso.

Bom, o barulho sobre o assunto pelo menos impediu que os tapetes persas chegassem à alta corte de Justiça da Bahia.

COT, clínica no Canela, que teve um pavimento incendiado em 24 de novembro de 2008


O sujeito oculto na TV. E o prêmio do Correio


O terceiro comentário ainda de 2008 é sobre algumas reportagens de TV. Continuo intrigado como as emissoras de TV fazem reportagens e não revelam os locais. Quando eram shoppings, havia sempre a desculpa esfarrapada que não se dizia o nome do estabelecimento para não gerar propaganda espontânea – argumento dos departamentos de marketing e jurídico da empresa.
Mas a coisa extrapolou quando houve a “cobertura” do incêndio no COT do Canela, na noite de segunda-feira, 24 de novembro (Fogo na COT do Canela causa remoção de paciente - http://www.atarde.com.br/cidades/noticia.jsf?id=1015871
CIDADES).
A repórter dizia: “Ocorreu um incêndio em uma clínica no centro da cidade”. Significa que alguém que tivesse um parente internado na clínica teria que fazer um “tour” pelas ruas centrais de Salvador até descobrir a clínica? Qual o problema de não informar direito?! O onde do lead definitivamente foi pro espaço.
Em 5 de dezembro, no Bom Dia Bahia, mais uma pérola. Numa reportagem sobre o Papai Noel com roupas verdes, a repórter dizia solenemente “num shopping que foi inaugurado recentemente”, e aí o telespectador que trate de descobrir qual foi. Taí o link: Shopping tem Papai Noel verde -
(
http://www.portalibahia.com.br/jornaldamanha/wp-content/uploads/2008/12/noel_verde.wmv)


E uma excelente notícia:

Ressalto ainda o prêmio conquistado por jornalistas do Correio, em 17 de dezembro de 2008. Reproduzo, aqui, a nota veiculada no Correio, em 18/18:

Os repórteres do CORREIO, Flávio Costa e Marcelo Brandão, receberam nesta quarta-feira (17), em Brasília, o 5º Prêmio AMB de Jornalismo, na categoria regional Nordeste com a série de reportagens sobre a Operação Janus.
O trabalho 'Justiça Venal' foi selecionado dentre 271 inscritos na premiação nacional da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e venceu na categoria regional os trabalhos concorrentes: 'Amor Bandido' (de Mônica Silveira, TV Globo) e 'O tempo como o senhor da impunidade' (de Thiago Cafardo, O Povo).
A série de reportagens também incluiu denúncias feitas na promoção de juízes no Tribunal de Justiça da Bahia e contou com a colaboração dos repórteres Cìnthia Kelly, Mariana Rios, Felipe Amorim e Lenilde Pacheco.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Gomorra é aqui?

Depois de ler o livro Gomorra, escrito em 2006 por um jovem italiano, Roberto Saviano, que conta a "história real de um jornalista infiltrado na violenta máfia napolitana", mudei o meu olhar para a onda de violência que está comendo solto nas periferias de Salvador – e aqui periferia é sinônimo de lugar à margem dos benefícios do desenvolvimento.

Suponho que ninguém acredita na história de que a prisão dos integrantes das quatro supostas principais famílias de traficantes soteropolitanos significa que o tráfico terá sido liquidado. Hoje (dia 10/01) os jornais trazem a notícia da prisão 14 pessoas de uma dessas famílias. Certamente é um feito que demonstra investigação, acompanhamento da situação policial da cidade. Mas quem pode garantir que a prisão dos membros das outras três famílias porá fim ao tráfico de drogas em Salvador?

Na Itália criaram-se as Procuradorias Antimáfia, como a de Nápoles, que revelam a dinâmica do poder mafioso e a natureza dos conflitos sangrentos entre as diversas famílias. Muitas vezes crimes parecidos com os que ocorrem aqui. Urge ampliar a ação das nossas procuradorias para aprofundar o conhecimento circunstanciado das organizações criminosas, único meio de sustentar a sua desarticulação.

Saviano acompanhou a ação da procuradoria e da polícia – inclusive com um aparelho de rádio sintonizado na freqüência policial. Quando a polícia era informada de algum homicídio ele sabia na mesma hora e, por diversas vezes, chegou à cena do crime antes dos policiais.

Nascido em Nápoles e, desde muito cedo, curioso para desvendar aquela realidade, tornou-se profundo conhecedor do submundo miserável onde vive a maioria da população da periferia da cidade.

Gomorra é uma grande reportagem de sabor ensaístico, de pegada antropológica, literatura que sintetiza experiências pessoais durante a realização da pesquisa que vem desde, pode-se dizer, os 13 anos de idade (1992), quando, indo para a escola com os colegas, Roberto viu um homem assassinado, varado de balas, dentro de um automóvel, com os pés no assento da cabeça da poltrona do carro. Os petardos produziram uma cambalhota no indivíduo e uma ejaculação involuntária.

Por trás de tudo está o "Sistema de Secondigliano", constituído por famílias numerosas que se sucedem no poder em Nápoles e em toda a Campânia.

Controlam o tráfico internacional de drogas e armas, associado à enorme influência sobre portos, construção civil e alta-costura, produzida em pequenas cidades por dezena de pequenas fábricas, que usam mão-de-obra qualificada, porém intensamente explorada como no início da revolução industrial. Os clãs controlam os transportes e a venda das peças - é o "Sistema que alimentava o grande mercado internacional da moda, o enorme arquipélago da elegância italiana".

A partir do norte de Nápoles grupos mafiosos articulam a sua influência global. Quando caiu o muro de Berlim, a máfia estava articulada com os governos da era socialista, de quem compraram armas e traficaram para grupos diversos em todo o mundo. A máfia montou uma cadeia de lojas e armazéns de roupas em todos os continentes. Adquiriu uma estrutura federal, internacional e flexível de negócios para a lavagem de dinheiro. São muitos os campos de atuação – alguns inimagináveis – como o transporte e disposição final de lixo tóxico.

Saviano narra dezenas de histórias impressionantes, como a do padre assassinado pela máfia porque fazia pregações e campanhas contra o crime. Um amigo do padre escreveu um texto e o levou no bolso para o enterro, porém o texto não foi lido. Parte dele foi publicado por Saviano. É neste texto que o religioso compara a região do Secondigliano à Gomorra.

A ilegalidade e clandestinidade escondem de nós fatos surpreendentes e estarrecedores sobre as relações íntimas e perigosas de homens e mulheres das poderosas famílias mafiosas. Saviano nos leva ao coração das trevas, para um lugar onde os fluxos financeiros convivem com os maiores índices de assassinato da Europa. Uma máquina terrorista, que domina pelo medo, armas em punho e que atrai milhares de jovens marginalizados, que se tornam mão-de-obra delinqüente à disposição dos mafiosos.

O livro já vendeu mais de dois milhões de exemplares em todo o mundo e foi adaptado para o cinema por quatro roteiristas e dirigido por Matteo Garrone. Foi o Vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes (2008). Está sendo exibido em Salvador, no Espaço Unibanco.

O livro causa forte impressão. A região onde atua o Sistema, na Itália, é chamada de Terceiro Mundo. É como aqui nas nossas periferias.
Lembrei do livro ao ler no jornal A Tarde a entrevista do secretário César Nunes, que se diz Secretário de Polícia e não de Segurança Pública – uma boa provocação para o indispensável debate sobre as nossas vidas. E um sinalizador da distância que estamos daquilo que é necessário para o combate eficaz às organizações criminosas. O próprio secretário admite que este combate se faz com políticas sociais. Inclusão Social, Distribuição de Renda, Justiça.

Mas será que nos basta ter apenas um secretário de Polícia? A frase mais debatida da entrevista foi aquela que enuncia a disposição do secretário de "ir pra cima dos bandidos" e produzir baixas no campo inimigo. Uma tática de guerra, evidentemente. Guerra de extermínio, se preciso for. O secretário não usa estas palavras, mas parece ser a intenção da fala.

Ocorre que estamos vivendo a era da queda do muro de Wall Street. É hora de mudanças profundas de paradigmas. É hora da onça beber água. Ou poderemos virar também terra de Gomorra. O secretário diz que o aumento do número de assassinatos deve-se ao acirramento dos conflitos internos dos diversos grupos de traficantes: "uma guerra intestina que está havendo entre o terceiro e quarto escalões dessa atividade ilícita", diz.

Acredito que devamos buscar entender o que está efetivamente acontecendo. Faltam-nos informações. A sociedade só sabe que é guerra do tráfico e só aparece quem está na frente das armas. Mas quem está por trás de tudo isso? O secretário admite que é preciso "haver uma investigação competente, policiais capacitados" e inteligência policial. De fato.Há muito o que ser descoberto, revelado. César Nunes explica que "a prisão dos líderes do tráfico", ou dos líderes atuais, poder-se-ia referir – também chamados por ele de "gerentes" – levou à intensificação da violência, agora comandada por jovens dos tais "terceiro e quarto escalões".

A fala do secretário poderia nos indicar a existência de escalões superiores que estariam atuando – o primeiro e o segundo escalões - mesmo com a prisão dos "gerentes". Ele nega, porém, essa hipótese e afirma não acreditar que haja alguém mais poderoso por trás dos traficantes locais.

Aí me parece útil e mesmo indispensável situar a questão no quadro mais amplo. Se o tráfico de drogas e armas é comandado por máfias americanas, européias e asiáticas, como pode o tráfico de drogas e armas de Salvador ser completamente autônomo das injunções internacionais em plena era da globalização financeira?

Parece impossível desbaratar as diversas máfias que atuam em todo lugar. Esta é uma questão glocal. Precisamos ter na Bahia, no Brasil, procuradorias antimáfias, que ajudem a sociedade brasileira – e baiana - a desvendar a natureza e a profundidade das organizações criminosas.

Jamais resolveremos a questão da violência fazendo guerra de extermínio de jovens marginalizados da periferia de Salvador.

O momento exige soluções ousadas. O tráfico de drogas só terá fim, evidentemente, quando a sociedade compreender que a legalização da atividade permitirá a regulação estatal adequada, além de facilitar, inclusive, o controle público.

Ao lado disso é preciso investimentos maciços em educação, cultura, geração de iniciativas criativas, produtivas, sensíveis.

A violência parece uma hidra cujas cabeças multiplicam-se ao serem decepadas. Neste caso uma hidra de dimensões planetária.

A guerra é outra: é por Distribuição e Geração de Renda, Inclusão Social, Justiça.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Israelense já nasce com uniforme e metralhadora?

José Bomfim


Mais uma vez vem de Socorro Araújo ótimas informações para o nosso dia-a-dia de notícias. A respeito do massacre do governo israelense na Faixa de Gaza, uma jornalista de Israel fala sobre o assunto, demonstrando principalmente o quanto é terrível para uma nação ficar à mercê do poderio militar.

A seguir, é Socorro Araújo que faz a introdução para a entrevista de Amira Hass.



Amira Hass (em primeiro plano), jornalista israelense


‘Estava pensando como desejar pra vocês um feliz ano novo num momento como este sem parecer insensível diante do que acontece na Terra Santa. Como ver imagens de crianças mortas por estilhaços de mísseis e enviar um cartão com estouro de champanhe?

Mas, acreditem, achei um motivo pra desejar, sim, um feliz ano novo. Lembram a música, acho que de Gonzaguinha, que diz "fé na vida/fé no homem/fé no que virá..."? Pois bem, foi mesmo no meio das notícias desse conflito que encontrei o personagem do meu cartão de esperança no futuro e de fé no homem. No caso, uma mulher, uma jornalista chamada Amira Hass. Filha de sobreviventes do holocausto, ela foi a primeira e única jornalista judia israelense a se instalar no território palestino ocupado pelas forças israelenses. Seu trabalho como correspondente do Haaretz, o principal jornal liberal do país, começou em 1993 na Faixa de Gaza. De lá foi para Ramalá. "Me chamam de correspondente para assuntos palestinos; na verdade, deviam dizer que sou especialista em ocupação israelense", diz ela.

Bom, gente, este texto foi tirado de uma matéria feita com ela em 2004 num jornal espanhol e publicada agora no blog Amálgama, mas Amira continua lá, ou pelo menos continuava até o início deste mês, quando foi detida por autoridades de Israel em Sderot, por ter entrado ilegalmente na Faixa de Gaza. Essa corajosa repórter israelense, respeitada pelos palestinos, pode substiuir neste instante a imagem daquelas crianças palestinas mortas.

Vejam um pouco sobre ela na matéria de Marco Lacerda no Amálgama”:

- Uma série de reportagens e colunas escritas por Amira entre 1997 e 2002 para o Haaretz foi recolhida no livro Crónicas de Ramala, inédito em português e publicado em espanhol pela editora Gutenberg Galaxy Madrid (2004).

Os textos são um grito contra o sofrimento da guerra; expressam a opinião de uma jornalista independente e muitas vezes indignada com a dominação imposta aos palestinos por seu país. "A existência de Gaza explica toda a saga do conflito palestino-israelense", afirma. "É a contradição do Estado de Israel: democracia para uns e exclusão para outros".

Impedidos por lei de circular livremente, os palestinos são forçados a um regime de confinamento e toque de recolher. Tornaram-se habituados a viver em perigo constante, porque, onde quer que estejam, estão na mira de armas israelenses. Em certa ocasião, um menino, intrigado com a onipresença militar, perguntou à jornalista: "Os judeus já foram bebês como nós, ou já nascem crescidos, de uniforme e metralhadora?"

Amira nasceu em Jerusalém no ano de 1956. Estudou história na Universidade Hebraica e em Tel Aviv, recebeu prêmios do Instituto Internacional de Imprensa e da UNESCO por seu jornalismo independente e de denúncia."

Trechos da entrevista:

A criação do Estado de Israel foi um erro?

A criação do Estado de Israel deve ser entendida com base nos eventos históricos que a precederam, especialmente o genocídio perpetrado na Europa por sociedades avançadas. O sionismo, cujo objetivo foi estabelecer uma casa para os judeus, era uma das alternativas fornecidas pela diáspora para enfrentar o anti-semitismo, a perseguição e discriminação. Considerar a criação de Israel um erro seria ignorar uma das maiores barbaridades concebidas pela civilização ocidental-cristã: a indústria da morte criada pela Alemanha nazista.

Como pode uma filha de sobreviventes do Holocausto defender opiniões tão pouco simpáticas ao povo judeu?

As minhas críticas à política israelense são proporcionais ao meu amor pelo meu povo e seu futuro. Faço parte do povo judeu e, como tal, estou convencida de que não teremos um futuro seguro enquanto dependermos da superioridade militar. Nossa condição étnica particular não pode levar-nos a um comportamento grupal que inflija dor e sofrimento aos outros. A auto-crítica e a crítica dos regimes opressivos são valores judaicos antigos dos quais me orgulho.

Como jornalista e cidadã, o que você sonha para o futuro do seu povo e do seu país?

A experiência me ensinou a ser modesta até nos sonhos. Minha esperança é que meu povo perceba, antes que seja tarde demais, que a superioridade militar não garante a segurança e a vida normal na região. Paz e justiça não são incompatíveis. Será fácil estabelecer a paz na região a partir do momento em que rompamos com a política de exclusão imposta aos palestinos desde a criação do Estado de Israel em 1948."

Pra ler toda a entrevista: http://www.amalgama.blog.br/
Mais sobre o conflito nos blogs: Diário do Oriente Mésio: http://blog.estadao.com.br/blog/chacra/
e no Biscoito Fino e a Massa: http://www.idelberavelar.com/

Manaus tem sete jornais diários

Jadson Oliveira



Em Tempo, Jornal do Commercio, Diário e A Crítica: considerados sérios



Há uma grande disparidade: enquanto Manaus, com 1,7 milhão de habitantes, tem sete jornais vendidos nas bancas diariamente, Salvador, com quase o dobro da população, tem apenas três (quatro se contarmos o Metrópole, distribuído gratuitamente).

Deixo de fora um oitavo – de nome A Tarde (como nosso grande jornal baiano), de circulação realmente vespertina – porque, nesses últimos dias, não o tenho encontrado nas bancas. Um blog de estudantes de Jornalismo daqui (Jornal Tréplica) falava da possibilidade de seu desaparecimento rápido ao comentar o seu lançamento, pouco antes das eleições municipais.

Um aspecto que realça a disparidade é que os índices sociais do Amazonas são piores do que os da Bahia, ou seja, por exemplo, a miséria e o analfabetismo são maiores. Por outro lado, entre as cidades brasileiras, Manaus ostenta o sétimo PIB (alguns por aqui falam em sexto), com destaque para as exportações da Zona Franca. Já Salvador tem o nono PIB (certamente a crise financeira internacional vai mexer com isso).

As mesmas notícias

Dos sete jornais, três (A Crítica, Diário do Amazonas e Amazonas Em Tempo) são do tipo convencional, jornalões com o noticiário, de modo geral, padrão, com diferenças pontuais (atualmente, por exemplo, o Diário está rompido com o governador do estado). As notícias nacionais e internacionais são aquelas mesmas das agências Folhapress, Ag.Estado, Ag.Globo, Associated Press (AP), Reuters, AFP, etc.

Um quarto é o tradicional Jornal do Commercio (assim com dois emes e sem acento), fundado em 1904, que se dedica ao noticiário de economia e negócios, tipo Gazeta Mercantil (penso em escrever mostrando “as pérolas” da linguagem jornalística de 100 anos atrás, com base numa página da época que acompanha sua edição).

E os outros três (Maskate, Manaus Hoje e Dez Minutos, um real, 50 centavos e 25 centavos, respectivamente) são os chamados populares. Lembram a fase terminal dos nossos Jornal da Bahia e Diário de Notícias. Os destaques são crime (violência), futebol, serviços, televisão, novelas e, claro, mulher quase pelada. Há quase todo dia uma bunda na capa. Diagramação bem leve, pouco texto, muita foto, colorido, tamanho menor, tabloide.

(Li no novo blog baiano, o Nublog, capitaneado pelo velho companheiro Chico Vasconcelos, que há um projeto de publicação na Bahia com preço mais acessível, não sei se com perfil semelhante. A matéria falava do novo Correio, vendido a um real).



Manaus Hoje, Dez Minutos e Maskate: os três chamados populares


Baixaria do Maskate


No capítulo baixaria, o Maskate é um caso à parte (Outro dia uma manchete de primeira página chamou a atenção do companheiro Ernandes, que me enviou, graças ao milagre da Internet: “Deputado espalha bosta no ventilador da Justiça”). É assim mesmo. Tem uma coluna de polícia (Boletim de Ocorrências), onde os acusados, suspeitos são tratados de marginal, alcoólatra, pé-inchado, infeliz, desocupado, altamente desocupado, cérebro atrofiado e por aí vai.

Uma outra coluna, Relax – proibido para menores (ilustrada sempre com uma bunda), é um “primor”. É na forma de conto pornô. Na edição que tenho em mãos, de 28/11/2008, a suposta esposa conta, com riqueza de detalhes, como “fiz meu marido de corno e adorei”. Fala de “chupar minha xaninha pequena”, “sua manjuba”, “pau”, “aquele mastro fenomenal”.

Outro dia li uma em que o suposto marido relatava, com detalhes, sua aflição ao espiar sua mulher sendo enrabada por um negão, muito bem dotado, “minha mulher, coitadinha”, ele lamentava, a mulher gozando adoidada e ele morto de pena, debatia-se na dúvida se ia acudi-la ou não. (Aliás, venho notando que o manauara tem mais fixação no corno do que no homossexual).
E o mistério da circulação?

Retorno às coisas ditas sérias (Mídia Baiana também é “relax”). Circulação. Uma pessoa ligada à área de comunicação comentou comigo que o número de leitores dos jornais amazonenses é bem pequeno. Os de maior circulação (A Crítica e o Diário) venderiam apenas de 6 a 7 mil exemplares cada um. (A Crítica anuncia que tem a maior circulação, enquanto o Diário garante que tem “a maior circulação comprovada”).

Se tal número estiver correto (6 a 7 mil), poderíamos concluir que só o baiano A Tarde vende mais do que os sete jornais de Manaus juntos. Qual seria a circulação diária de A Tarde, 40 mil? E do Correio, que deve ter aumentado muito? E da Tribuna da Bahia, uns 5 mil? Alguém saberia informar aos leitores do MB? (Na verdade, essa é uma informação que os jornais escondem como segredo de estado).

Bem, informações adicionais: os três chamados populares têm pouquíssima publicidade. No caso do Manaus Hoje e do Dez Minutos, é compreensível. O primeiro é do mesmo grupo de A Crítica e o segundo é do grupo do Diário do Amazonas. (O amazonense A Tarde, ao qual me referi acima, também é – ou era – atrelado a outro jornal, o Em Tempo. O blog Jornal Tréplica se refere a estas três publicações como “jornais-filhos”). E quanto ao Maskate, como se sustenta? Não sei.

Mais:
o grupo de A Crítica tem uma emissora de TV, com o mesmo nome (Canal 4, retransmite a Record); e o do Em Tempo tem outra, também com o mesmo nome (Canal 10, repete o SBT). Devem haver ainda ramificações pelas emissoras de rádio, mas não tenho informações.

Há, portanto, aquele entrelaçamento de propriedades, o que é comum na escandalosa concentração dos meios de comunicação em mãos de poucos. Os blogs/sites na nova era da Internet podem contribuir para uma mexida nisso. Viva a mídia alternativa!