segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Ano que vem tem mais

Jadson Oliveira


Fotos: Jadson e Manoel Porto






Apresentação da dança do carimbó, típica do Pará, feita na abertura...



e o sucesso samba dos participantes no encerramento.

O Fórum Social Mundial (FSM) em Belém do Pará começou com chuva e acabou com chuva, o que não é bem uma novidade nesta época na região amazônica. Enquanto os coordenadores do evento davam coletiva para a imprensa, na tarde deste domingo, dia primeiro, avaliando as atividades durante os seis dias, caia água sobre os milhares de participantes, como no desfile de abertura no centro da cidade, dia 27.

A maior concentração, como sempre, era no campus da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), onde o ambiente durante a tarde era de confraternização e despedidas. Foi aí onde se movimentou a grande maioria dos jovens, acampados em barracas ao longo de grande parte da via interna do campus. O outro, o da Federal do Pará (UFPA), sempre esteve mais calmo.
Mas a chuva, também no domingo, não foi impedimento para as manifestações de alegria. Por volta das 15 horas, muitos já iniciavam o caminho de casa, mochila nas costas ou carregando sacolas e colchonetes, aquela fisionomia de missão cumprida, até mais para os camaradas. Deu para ouvir até aquele "paz e amor", que mexe com as lembranças dos hippies dos anos 60.

Grupos mostravam sua desenvoltura dançando e cantando. Na tenda Reflorestando a Amazônia corria solto um animadíssimo forró, variando em seguida para marchinhas do carnaval de antigamente. Na área de alimentação, que após o almoço e lanche virou um amplo espaço de congraçamento, um grupo de baianos e baianas tentava ensaiar o carimbó, dança típica do Pará, mas fez sucesso mesmo foi com o samba.



Ao longo da pista, sempre aparecia um grupo de jovens disposto a aproveitar os últimos momentos. Os praticantes de esportes, especialmente futebol e voleibol, estiveram sempre ativos, com chuva ou sem chuva. Os ambulantes também, acrescentando no rol das ofertas a capa plástica e o guarda-chuva.
As manifestações esportivas e culturais, aliás, foram uma constante nos seis dias de Fórum, não só nos campi, mas também no centro da capital paraense. No Cidade Folia, local de shows em Belém, houve muitas promoções, com participação de grupos de vários países – música, teatro, dança e circo.


As feministas tiveram a tenda mais cheia e animada

200 marcados para morrer

Durante a manhã, no entanto, o clima foi um pouco diferente, inclusive literalmente falando, fazia sol. E, nos diversos espaços de debates, foi o momento das reuniões finais sobre os variados temas discutidos. Para citar alguns: justiça climática, crise civilizatória, militarismo, negras e negros, auditoria da dívida, etc, etc.

Na área de Direitos Humanos, por exemplo, o bispo de Marajó, Dom José Luis Azcona (foto acima), espanhol há 25 anos no Brasil, denunciava que há 200 pessoas marcadas para morrer no Pará - inclusive ele próprio - ameaçadas pelos latifundiários. (Não esquecer que foi no Pará que ocorreu recentemente a execução da freira Dorothy Steing, missionária norte-americana).
A tenda dos Povos Indígenas também se movimentava principalmente com os representantes das nações andinas, as mais organizadas e combativas, a exemplo dos povos Quechua, Kichwa, Aymara, cujo filho mais ilustre é Evo Morales, presidente da Bolívia, e Mapuche. O espaço utilizado pelas feministas estava totalmente lotado, provavelmente foi o mais concorrido entre todos das assembléias deste domingo.



Povos indígenas como guia

Quanto aos povos e nações sem Estado, tema que mereceu a maior atenção deste blog durante o FSM, os debatedores, capitaneados pelo Centro Internacional Escarré para as Minorias Étnicas e as Nações (Ciemen), pronunciaram-se pela criação de uma articulação entre eles, a partir da "oportunidade histórica" do Fórum, "com a finalidade de contribuirmos mais eficazmente no sentido de abrir novos caminhos para que outro mundo seja possível", conforme disseram em um manifesto.

No documento, afirma-se ainda que os povos indígenas ou originários são um guia para o reconhecimento dos direitos coletivos. "Tais povos – continua -, a quem apoiamos, são um exemplo de coerência e perseverança no total respeito à mãe natureza, ao meio ambiente e a seus recursos naturais."


Nenhum comentário: