Jadson Oliveira, de Belém
Que coisa horrível! Diria o saudoso companheiro Pedro Matos, lá da Assembléia Legislativa baiana. Veja a ginástica a que se submetem na cobertura política os jornalistas do Diário do Pará, jornal do hoje deputado federal Jader Barbalho (PMDB). Lembra os velhos tempos, não tão velhos, d

(Os colegas enfrentam problemas similares em qualquer publicação, mas nesses casos o vexame é maior).
Tive a sorte de comprar o Diário e O Liberal no último dia 3, com o noticiário da eleição dos presidentes do Senado e da Câmara (José Sarney e Michel Temer), já pensando em fazer uma avaliação dos dois. Não imaginei que encontraria material tão expressivo.
A matéria principal do jornal do Jader, assinada por uma correspondente de Brasília (coitada!), é um primor de contorcionismo, especialmente na edição. O título não diz nada ("Vitória do PMDB repercute na região Norte"), daqueles que a gente dá, que nã

Da mentira à confusão
No "olho", "apoio", como chamam os jornalistas, a coisa fica grave. Começa mentindo: "Toda a bancada paraense votou nos dois". E completa, de maneira confusa: "Em Sarney e Temer, os deputados apostaram no moderado" (entendeu?). No texto da matéria, lá pelo meio, é dito (em tais situações nunca se sabe se foi realmente o repórter que escreveu ou se se trata de enxerto do redator/editor) que "praticamente toda a bancada paraense votou em Temer e Sarney".
Numa nota ao lado ("conjugada", no jargão das redações), cuja procedência diz simplesmente "Senado", noticia-se que o senador José Nery (PSOL), um dos três do Pará, votou em Tião Viana, o candidato do PT. Na mesma nota, está dito que outro senador paraense (Mário Couto/PSDB) "não declarou o voto, mas disse ter apreciado o pronunciamento de José Sarney".
É mole? Assim o pobre do leitor fica pirado. Vamos consultar O Liberal. Manchete da página 2: "Tião obteve os três votos dos paraenses". Diante das evidências, temos de dar crédito à informação de O Liberal. A matéria dá que os três senadores seguiram a orientação dos partidos e, quanto à Câmara, informa que 12 deputados votaram em Temer, dois não declararam o voto e três não foram localizados pela reportagem.
Voltando ao Diário do Pará. Na edição, os editores têm o cuidado de meter uma declaração do patrão, absolutamente óbvia, na chamada da primeira página, e outra num "olho" da matéria de dentro. Há ainda uma repetição de informações sobre o mesmo assunto nas três páginas seguintes, com base no noticiário das agências.
Quanto ao texto atribuído à correspondente, é um aglomerado de parágrafos desconexos, daqueles que os editores mexem e remexem ao sabor das conveniências. Além de declarações do Jader, há um longo parágrafo dedicado à deputada federal Elcione Barbalho (PMDB), que vem a ser ex-mulher do patrão. (Ele tem um filho, Helder, que é prefeito de Ananindeua, a maior cidade paraense depois da capital, na Região Metropolitana de Belém).
Trata-se, na verdade, de um coronel da mídia, como os baianos conhecem tão bem. Jader tem jornal, TV e rádio (AM e FM). Segundo se sabe por aqui, seu Diário do Pará vende em torno de 26 mil exemplares por dia, tendo ultrapassado o tradicional O Liberal, diário que já disputou a liderança do Norte/Nordeste com o nosso A Tarde.
Segundo Lúcio Flávio Pinto, jornalista de reconhecida atuação nacional que voltou a trabalhar no Pará (presumo que sua terra) – ele edita o Jornal Pessoal, quinzenal, 12 páginas tamanho ofício e é autor de livros sobre a região -, O Liberal e A Tarde tiveram sua circulação reduzida e atualmente perdem para dois jornais de Pernambuco e um do Ceará.
Quatro jornais diários
Belém tem quatro jornais diários vendidos nas bancas, situação semelhante à de Salvador (se contarmos o do grupo Metrópole, distribuído gratuitamente), apesar de ter mais ou menos a metade da população soteropolitana. Além dos dois principais, há o Amazônia e o Público.
O Amazônia segue aquela receita chamada popular, da qual falei ao descrever os sete ou oito diários de Manaus (matéria neste blog). Pertence ao mesmo grupo de O Liberal (dono também da TV repetidora da Globo), tablóide, colorido, muita foto, mais barato, sempre uma mulher semipelada na capa.
Já o Público é o caçula, começou no final do ano passado, vendido a R$ 0,75. Mas não segue a receita dos "populares". Ao contrário. Tamanho standart, colorido só nas capas e contracapas dos três cadernos, muito texto, pouca foto, diagramação "pesada" (como falam os jornalistas), de leitura pouco atraente.
Nota sobre o FSM
Para quem acompanhou aqui nossa cobertura do Fórum Social Mundial, realizado em Belém do Pará, observo que, depois de nove edições, os organizadores decidiram promover a próxima edição só em janeiro de 2011. Durante os próximos dois anos, haverá múltiplas atividades em variados lugares, de forma descentralizada, com a participação dos diversos segmentos e abordagem de dezenas de temas. A nova orientação vem gerando muita discussão nos vários níveis de coordenação.
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