terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Como desinformar os leitores

Jadson Oliveira, de Belém







Que coisa horrível! Diria o saudoso companheiro Pedro Matos, lá da Assembléia Legislativa baiana. Veja a ginástica a que se submetem na cobertura política os jornalistas do Diário do Pará, jornal do hoje deputado federal Jader Barbalho (PMDB). Lembra os velhos tempos, não tão velhos, do nosso Correio da Bahia.

(Os colegas enfrentam problemas similares em qualquer publicação, mas nesses casos o vexame é maior).

Tive a sorte de comprar o Diário e O Liberal no último dia 3, com o noticiário da eleição dos presidentes do Senado e da Câmara (José Sarney e Michel Temer), já pensando em fazer uma avaliação dos dois. Não imaginei que encontraria material tão expressivo.

A matéria principal do jornal do Jader, assinada por uma correspondente de Brasília (coitada!), é um primor de contorcionismo, especialmente na edição. O título não diz nada ("Vitória do PMDB repercute na região Norte"), daqueles que a gente dá, que não fedem nem cheiram, pra não correr o risco de desagradar o patrão.

Da mentira à confusão

No "olho", "apoio", como chamam os jornalistas, a coisa fica grave. Começa mentindo: "Toda a bancada paraense votou nos dois". E completa, de maneira confusa: "Em Sarney e Temer, os deputados apostaram no moderado" (entendeu?). No texto da matéria, lá pelo meio, é dito (em tais situações nunca se sabe se foi realmente o repórter que escreveu ou se se trata de enxerto do redator/editor) que "praticamente toda a bancada paraense votou em Temer e Sarney".

Numa nota ao lado ("conjugada", no jargão das redações), cuja procedência diz simplesmente "Senado", noticia-se que o senador José Nery (PSOL), um dos três do Pará, votou em Tião Viana, o candidato do PT. Na mesma nota, está dito que outro senador paraense (Mário Couto/PSDB) "não declarou o voto, mas disse ter apreciado o pronunciamento de José Sarney".

É mole? Assim o pobre do leitor fica pirado. Vamos consultar O Liberal. Manchete da página 2: "Tião obteve os três votos dos paraenses". Diante das evidências, temos de dar crédito à informação de O Liberal. A matéria dá que os três senadores seguiram a orientação dos partidos e, quanto à Câmara, informa que 12 deputados votaram em Temer, dois não declararam o voto e três não foram localizados pela reportagem.


Voltando ao Diário do Pará. Na edição, os editores têm o cuidado de meter uma declaração do patrão, absolutamente óbvia, na chamada da primeira página, e outra num "olho" da matéria de dentro. Há ainda uma repetição de informações sobre o mesmo assunto nas três páginas seguintes, com base no noticiário das agências.

Quanto ao texto atribuído à correspondente, é um aglomerado de parágrafos desconexos, daqueles que os editores mexem e remexem ao sabor das conveniências. Além de declarações do Jader, há um longo parágrafo dedicado à deputada federal Elcione Barbalho (PMDB), que vem a ser ex-mulher do patrão. (Ele tem um filho, Helder, que é prefeito de Ananindeua, a maior cidade paraense depois da capital, na Região Metropolitana de Belém).

Trata-se, na verdade, de um coronel da mídia, como os baianos conhecem tão bem. Jader tem jornal, TV e rádio (AM e FM). Segundo se sabe por aqui, seu Diário do Pará vende em torno de 26 mil exemplares por dia, tendo ultrapassado o tradicional O Liberal, diário que já disputou a liderança do Norte/Nordeste com o nosso A Tarde.

Segundo Lúcio Flávio Pinto, jornalista de reconhecida atuação nacional que voltou a trabalhar no Pará (presumo que sua terra) – ele edita o Jornal Pessoal, quinzenal, 12 páginas tamanho ofício e é autor de livros sobre a região -, O Liberal e A Tarde tiveram sua circulação reduzida e atualmente perdem para dois jornais de Pernambuco e um do Ceará.

Quatro jornais diários

Belém tem quatro jornais diários vendidos nas bancas, situação semelhante à de Salvador (se contarmos o do grupo Metrópole, distribuído gratuitamente), apesar de ter mais ou menos a metade da população soteropolitana. Além dos dois principais, há o Amazônia e o Público.

O Amazônia segue aquela receita chamada popular, da qual falei ao descrever os sete ou oito diários de Manaus (matéria neste blog). Pertence ao mesmo grupo de O Liberal (dono também da TV repetidora da Globo), tablóide, colorido, muita foto, mais barato, sempre uma mulher semipelada na capa.


Já o Público é o caçula, começou no final do ano passado, vendido a R$ 0,75. Mas não segue a receita dos "populares". Ao contrário. Tamanho standart, colorido só nas capas e contracapas dos três cadernos, muito texto, pouca foto, diagramação "pesada" (como falam os jornalistas), de leitura pouco atraente.

Nota sobre o FSM

Para quem acompanhou aqui nossa cobertura do Fórum Social Mundial, realizado em Belém do Pará, observo que, depois de nove edições, os organizadores decidiram promover a próxima edição só em janeiro de 2011. Durante os próximos dois anos, haverá múltiplas atividades em variados lugares, de forma descentralizada, com a participação dos diversos segmentos e abordagem de dezenas de temas. A nova orientação vem gerando muita discussão nos vários níveis de coordenação.

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