quinta-feira, 23 de abril de 2009

Grande mídia versus Requião


Jadson Oliveira, de Curitiba(PR)

Instigado pelo companheiro Josias Pires, que lembrou em comentário no Mídia Baiana o medo dos políticos de criticar as TVs, quero lhes falar da guerra travada entre a grande mídia e o governador do Paraná, Roberto Requião (foto), do PMDB (quem diria? nosso PMDB tem de tudo, de ruim, de mais ou menos e de bom, até governador de esquerda).

Pois é, Requião briga até com a toda-poderosa Rede Globo, que se julga dona da consciência dos brasileiros.


Durante o segundo seminário que o governo paranaense promoveu para discutir a crise do capitalismo, no final do mês passado (ver matéria no meu blog, Novo sistema político para enfrentar crise), ele comentou que “estávamos irritados com o plim-plim”, que traz os arautos do neoliberalismo apontando soluções para uma crise que eles próprios criaram.

Antes de “morar” em Curitiba, eu já sabia deste enfrentamento, mas nada como acompanhar as coisas ao vivo no dia-a-dia.



Os jornais e o noticiário local das TVs não dão descanso, é pau todo santo dia (poupam, por exemplo, o prefeito da capital, Beto Richa (foto), do PSDB, muito bem avaliado nas pesquisas e que deu um banho na reeleição).

BOICOTE À TV EDUCATIVA - Os colunistas dos jornais mais fortes – Gazeta do Povo e O Estado do Paraná – atacam o governo estadual com virulência e referem-se ao PMDB como carta fora do baralho no jogo da sucessão estadual. Um detalhe emblemático é o boicote na divulgação da programação da TV Paraná Educativa, o front mais visível nas batalhas de Requião.

Na maioria das vezes os dois diários não divulgam a programação da Educativa – os colunistas a chamam, desdenhosamente, de “a Educativa do Requião”. No Gazeta do Povo costuma aparecer junto às programações das demais emissoras: “Paraná Educativa – A emissora não divulgou a programação até o fechamento desta edição”.

A TV Educativa transmite ao vivo (em cadeia com a rádio do estado) a Escola de Governo, reunião, todas as terças-feiras pela manhã, do secretariado com o governador, quando são feitos anúncios de projetos, avaliações dos diversos setores governamentais, etc. Os colunistas a batizaram de “a escolinha do Requião”, tentando ridicularizá-la ao forçar a comparação com o programa humorístico da Band (uma gozação, aliás, bem bolada).

Mas (tem sempre um mas), outro dia me convenci de que o trabalho de Requião na área da educação deve ser realmente a maravilha que o governo sempre alardeia. Por que? Porque um desses colunistas falou dos altos índices de aprovação do setor, detectados em pesquisa de opinião. Claro que isso era uma ressalva em seu arrazoado geral, pois o predominante no seu comentário era pau no setor de segurança.

TERRORISMO MIDIÁTICO - E a mídia dita nacional, os canais de TV de concessões eternas e os jornalões de São Paulo e Rio? (Registro: Requião usa em suas arremetidas o termo “jornalões”, pejorativo tão ao gosto dos críticos radicais da grande imprensa). Aí não há erro. Só se vê notícia negativa. Quando não há se cria e quando há se amplia ao máximo. Os venezuelanos chamam isso terrorismo midiático.

(Me lembro um apresentador de uma TV estatal na Venezuela, rebatendo as críticas ferozes das TVs privadas contra o presidente Hugo Chávez: “Será que o governo Chávez nunca fez uma coisinha boa?” Ou, invertendo – o que dá no mesmo para efeito de argumentação -, meu amigo Geraldo Guedes (foto), lá de Brumado no interior da Bahia, perguntando a uma nossa amiga que fazia rasgados elogios ao marido: “Mas será que ele não tem nem um defeitinho?”)

Outro parêntesis: tenho um critério que julgo seguro para avaliar políticos, dirigentes, governantes. Quando a grande mídia só fala mal do cara, pode desconfiar. O cara deve ser gente boa, está tentando fazer alguma coisa em favor dos pobres e, óbvio, contra os interesses dos mais ricos, dos donos do mundo. Do ponto de vista político e ideológico, não tem por onde errar. Fecha o parêntesis.

SOMOS SIM UM GOVERNO DE ESQUERDA - Bom, como disse no segundo parágrafo deste artigo que, pelo jeito, ainda vai longe (me desculpem os apressados), o governador paranaense não contemporiza diante da arrogância da mídia. Ficou famoso o seu discurso de posse quando reeleito em 2006, publicado na íntegra pela revista Caros Amigos. Algumas frases só para sentir o clima: depois de alinhar entre seus adversários “os que fizeram da liberdade de imprensa um negócio muito próprio e muito próspero”, proclamou abertamente sua opção política:

“E não é um governo de centro-esquerda, não. Não venham com esses centrismos, com esse equilibrismo. Somos sim um governo de esquerda. (...)Somos de esquerda, porque ser de esquerda é ser solidário, fraterno, humano. É ser gente. É ter os olhos, a alma e o coração voltados para as desigualdades e as misérias deste mundo”.

QUAL O PODER DE FOGO DA MÍDIA? - Da sua principal trincheira, a tela da TV Educativa (os opositores já tentaram derrubá-la, através da Justiça, num episódio que não conheço bem), Requião ataca e contra-ataca, mostrando incansavelmente as realizações de seu governo. E desdenha do poder de fogo da grande mídia. Numa terça-feira dessas na “escolinha”, ele pediu a um assessor para dizer a circulação dos “jornalões” do país e do estado.

O assessor informou que
a Folha de S. Paulo está em torno de 400 mil exemplares por dia, situação semelhante ao Estadão (acrescento: a Folha, tido como o de maior circulação entre os jornais vendidos em banca no Brasil, caiu do patamar de 700 mil/dia).


Outros diários: Estado de Minas – 200 mil e Zero Hora (Porto Alegre) – 170 mil.

No Paraná, Gazeta do Povo, o mais lido, está na marca de 40 mil/dia (70 mil aos domingos) e o segundo (me escapou o nome, presumo que seja O Estado do Paraná) está em 20 mil. Há um terceiro com 17 mil exemplares diários, tudo conforme dados apresentados pela assessoria do governo.

(Gazeta do Povo é do mesmo grupo empresarial da TV RPC (Rede Paranaense de Comunicação), repetidora da Globo. O Estado do Paraná é de Paulo Pimentel, ex-governador (1966-1971), sendo que o mesmo grupo edita outro jornal diário, Tribuna do Paraná, destinado ao chamado gosto popular, isto é, sangue, sexo, fofoca e futebol).

E o site (ou sítio) da Agência Estadual de Notícias (AEN), do governo paranaense? Uma média de 85 mil acessos diários, respondeu o assessor. Chegou onde Requião queria: a AEN tem mais leitores do que os jornais do Paraná que o atacam (pode ser uma conclusão discutível, já que são veículos diferentes e o impresso tem um certo fetiche. E também não se sabe bem a influência da Internet. Com a palavra os entendidos na matéria).

Então, pelo sim pelo não, é de se discutir o poder de fogo real dos meios de comunicação.


É de se admirar os elevados índices de aprovação de Requião e de seu governo diante do bombardeio da mídia. Na recente pesquisa do Datafolha, avaliando dez governadores, ele ficou em quarto lugar (José Serra, de São Paulo, paparicado pela imprensa, foi quinto).

Na última pesquisa divulgada por aqui, sobre as próximas eleições, o governador está tranqüilo em primeiro lugar na disputa para o Senado, embora o seu provável candidato ao governo – o vice Orlando Pessuti, também do PMDB – esteja aparecendo bem atrás (os primeiros colocados são os pré-candidatos do PSDB, o prefeito Beto Richa e o senador Álvaro Dias, e o do PDT, o senador Osmar Dias. Quem se perguntou, a resposta é sim, Álvaro e Osmar são irmãos).

DIFERENÇAS ENTRE LULA E REQUIÃO - Tal quadro faz lembrar a situação de nosso presidente Lula, que apanha, apanha da grande imprensa e segue super-bem avaliado pela chamada opinião pública. Claro que a mídia pega bem mais leve, pelo menos se comparamos com a ferocidade contra Requião. E há duas diferenças fundamentais entre os dois:

1 – Apesar de se queixar de azia ao ler, pela manhã, o noticiário dos jornalões, Lula ajuda a financiar a grande mídia que o ataca. O gasto do governo federal em anúncios nos jornais, revistas, TVs e rádios chega a 1,5 bilhão de reais por ano, segundo informação de Beto Almeida, apresentador do programa Brasil Nação (TV Paraná Educativa) e presidente da TV Comunitária de Brasília. Já Requião, informou o mesmo Beto, não anuncia na grande imprensa.


2 – O governador tem atitudes claras de esquerda. Mantém relacionamento amistoso e produtivo com os movimentos sociais, enquanto joga duro contra a rapina das corporações transnacionais. Reverteu processos de privatização de empresas estaduais quando assumiu o governo e adota posição firme, conhecida nacionalmente, contra a praga dos transgênicos. Portanto, sua briga com a mídia não é mera birra casual, já que ela sempre atua como porta-voz da direita.

REGISTRO – Uma vez eu estava elogiando alguma atitude do governador Requião, em Salvador, quando o companheiro Franciel Cruz (foto), do irreverente blog Ingresia, me advertiu: “Não esqueça que ele é amigo de ACM” (o ex-chefe da Bahia, Antonio Carlos Magalhães, nosso ACM, ainda era vivo). Não sei até que ponto está correta a informação, mas fica o registro. Na verdade, o rapaz parece recusar-se a levar a política a sério. Prefere fazê-lo com relação ao Vitória – alguns dizem Vitorinha -, representante do futebol baiano na série A do campeonato brasileiro.


Gilmar Mendes versus Joaquim Barbosa


“Vossa Excelência não está na rua, Vossa Excelência está na mídia, destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro”. Ouvi esta pérola ao acabar de escrever o artigo acima e ligar a TV no Bom Dia Brasil da Globo, nesta quinta-feira, dia 23. Era o ministro Joaquim Barbosa ferroando seu colega Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), durante um apimentadíssimo bate-boca em plena sessão do STF.

Gilmar Mendes, que tem aparecido na grande mídia falando dos mais diversos e polêmicos assuntos, é apontado atualmente como um dos mais reluzentes porta-vozes da direita no Brasil. Creio que Joaquim Barbosa deve ser capa da Carta Capital, revista que goza de prestígio entre parcelas ponderáveis da inteligência nacional e vem criticando com veemência a atuação do presidente do Supremo.



7 comentários:

Anônimo disse...

Campanjeiro,
seguinte é este.

A amizade de Requião com o nefasto, que não ouso dizer nem o nome, começou por conta de uma putaria envolvendo Jaime Lerner, que era do pê fê lê, e Luís Eduardo.

Briga por espaço.

Então, o Cabeça se aliou a Requião numa destas espúrias e cada vez mais normais alianças políticas de Pindorama.

Não tenho o registro aqui, mas vou procurar. Requião colocou até uma foto do miseráaavo lá em sua (lá dele) casa e saiu matéria no Estadão na época.

Quando você for visitar o governador pode ver se a dita foto ainda tá lá.

Franciel Cruz, o homem, o mito, o pentelho.

Jadson disse...

OK, companheiro Franciel, Obama errou ao apontar "o cara".
Joaninha, grande editora, nunca pensei de chegar à glória de ter essa coisa aí para ilustrar meu arrazoado (vídeo, áudio, como é que chama mesmo?)
E de onde vc desenterrou essa figura, o Geraldo Guedes, com essa cara e chapéu de vaqueiro? Toda vez que olho, dou risada.

Mônica Bichara disse...

E essa foto de Franciel? Que chic!!!
Tem razão, Jadson, o Joaquim Barbosa enquadrou mesmo o canalha do Gilmar Mendes: "Me respeite, não sou seus capangas do Mato Grosso".

Joana D'Arck disse...

Companheiro,tenho um arquivo razoável de fotos e esta de Geraldo Guedes foi de autoria de Deta, feita num passeio de vocês na roça dele. Apenas dei uma recortada para mostrar melhor a cara do companheiro Geraldo. Ficou hilária mesmo. Quanto a Franciel, o nosso blogueiro pioneiro é tão facilmente encontrado no google quanto afoto de Requião (hehehehe...)

Jadson disse...

Se tem um assunto verdadeiramente controverso é quando se fala em circulação de jornal, de revistas, venda em banca, audiência de TVs e rádios. Encontramos os números mais disparatados. Os próprios veículos guardam os números verdadeiros como segredo de Estado. Buscar conhecer os números reais é importante para se conhecer melhor a realidade. Qual o poder de fogo das diversas mídias?
Na matéria Grande mídia versus Requião, dei uns números, com base em informação veiculada pela assessoria do governo do Paraná. Comentando tais números com o jornalista paranaense Luiz Geraldo Mazza, no Stuart (meu bar predileto em Curitiba, fica na praça General Osório, pertinho da famosa Boca Maldita), ele me apresentou dados, em alguns casos, bem diferentes. Mazza trabalha na Rádio CBN (Central Brasileira de Notícias) e é colunista da Folha de Londrina. Eis aí:
Jornais diários mais lidos do Paraná: Gazeta do Povo, 40/45 mil exemplares por dia; Folha de Londrina, 38 mil; Tribuna do Paraná (jornal “popular” do grupo Paulo Pimentel), 18 mil; O Estado do Paraná (jornal “sério” do grupo Paulo Pimentel), 14 mil; e, em quinto lugar, Jornal de Apucarana, com 11 mil/dia.
Ainda segundo Mazza: Folha de S.Paulo chega só a 300 mil jornais diariamente, enquanto O Globo e o Estadão alcançam a marca de 230 mil; Zero Hora (Porto Alegre) chega a 180 mil; e a revista Veja, a mais lida do tipo, a 800 mil por semana. Para ele, o diário de maior circulação no Brasil é o Extra, do Rio de Janeiro, o jornal “popular” do grupo dos Marinho (Organizações Globo), vendido a R$ 1,10, com 330 mil/dia.

Josias Pires disse...

Prezado(a)s,

achei bastante oportuno Jadson trazer o caso da TVE do Paraná, do governador Requião, auto-declarado de esquerda e tal. Há um debate, que já estave mais aceso, sobre a comunicação pública, rede pública, etc. Alguns dizem que o modo como Requião usa a TVE do Paraná caracterizaria a emissora como uma TV estatal e não uma TV pública, esta pressupõe o controle do público. Controle que não existe na TV brasileira.

Do meu modesto ponto de vista compreendo a necessidade do governo dispor de um canal de comunicação multimídia, é fundamental; assim como é preciso canais de TV pública capazes de produzir sua programação com produtos de vários origens e também com produtos da própria emissora, que deve ser um centro de excelência - é o que desejei e desejo para a nossa TVE Bahia.

Jadson disse...

Companheiro Josias, com certeza essa discussão sobre TV pública e/ou estatal vai voltar com toda força este ano, incluindo, claro, os abusos da TV privada e da mídia de modo geral. Não propriamente na grande imprensa, pois ela evita mexer na sua própria podridão. É que, como já se sabe, o governo Lula convocou, finalmente, a Conferência Nacional de Comunicação, para 1 a 3 de dezembro, uma luta de pelo menos dois anos dos movimentos sociais.
Não sei como essa coisa está aí na Bahia (conheço aí um pouco o professor Jonicael Cedraz, da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária, sigla Abraço, uma entidade que vinha batalhando pela Conferência há algum tempo). No último final de semana, até segunda-feira, houve aqui em Curitiba uma movimentação grande sobre o assunto – treinamento das rádios comunitárias, debate sobre o uso das produções artísticas na internet, audiência pública na Assembléia sobre projeto de lei na Câmara dos Deputados (já aprovado no Senado), o qual, encoberto pela necessidade de coibir crimes na internet, como pedofilia, etc, quer, na verdade, botar uma mordaça na internet. Ainda lançamento da comissão da Abraço-Paraná e debate na TV Educativa.
Creio que a coisa vai ferver. Aqui tem uma Comissão pró-Conferência muito atuante, composta pelos movimentos sociais, com apoio do governo do estado e de alguns deputados, acho que a maioria do PT.
Há o risco das grandes corporações da mídia dominar o debate e impor as posições da direita, especialmente devido à fraqueza dos movimentos sociais no Brasil.
Na Argentina o governo já tem projeto para tentar quebrar a concentração da mídia, tá tendo uma boa discussão por lá. No site da Agência Carta Maior tem farto material sobre tudo isso.