Cozinheiros e contramão
O presidente do STF, Gilmar Mendes, foi muito infeliz ao dizer, no parecer cassando a exigência do diploma de jornalista, que 'jornalista é igual a cozinheiro, não precisa aprender para fazer'. Parece estar na contramão da história. Os cursos de gastronomia recém-implantados na Bahia são dos mais concorridos.O que equivale a dizer: são os cozinheiros que querem sair do informalismo para robustecer suas aptidões com bases científicas e conceitos éticos, na preparação, conservação e logística dos alimentos. E não os jornalistas que querem regredir.
Presidente da Fenaj diz que fim do diploma de jornalista gera dúvidas sobre profissão
"O presidente da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), Sérgio Murillo, convocou para julho uma reunião em São Paulo com todos os sindicatos de jornalistas do país para discutir a decisão de ontem do STF (Supremo Tribunal Federal) que acaba com a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão. Segundo Murillo, o fim do diploma gera dúvidas sobre a regulação da profissão".
Fonte:Site JusBrasil, extraído da Folha Online
Deu no 180graus.brasilportais
"Alunos e jornalistas fazem ato de protesto a favor do diploma.
Protesto será no próximo dia 22/06 na Avenida Frei Serafim a partir das 10 horas da manhã"
Depois da polêmica decisão do Superior Tribunal Federal (STF) de invalidar o diploma para o exercício do jornalismo, alunos do curso de jornalismo das instituições UFPI, UESPI, FSA, CEUT, juntamente com professores e profissionais da área, além do Sindicato dos Jornalistas (SindJor-PI) decidiram organizar um ato de protesto contra a decisão do ministro Gilmar Mendes.
O protesto, que acontece paralelo a outros em várias capitais do Brasil, será realizado no próximo dia 22 de junho, a partir das 10h, na Avenida Frei Serafim, em frente ao supermercado Bompreço, Centro de Teresina. Já estão confirmadas as presenças de jornalistas locais de visibilidade,, inclusive do presidente do sindicato Luís Carlos Oliveira. Este veio ao 180graus e falou sobre como vai ser o protesto".
Leandro Fortes escreveu no seu blog " Brasília eu Vi "
O fim da obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo é uma derrota para a sociedade brasileira, não esta que discute alegremente conceitos de liberdade de expressão e acredita nas flores vencendo o canhão, mas outra, excluída da discussão sobre os valores e os defeitos da chamada “grande imprensa”. São os milhões de brasileiros informados por esquemas regionais de imprensa, aí incluídos jornais, rádios, emissoras de TV e sites de muitas das capitais brasileiras, cujo único controle de qualidade nas redações era exercido pela necessidade do diploma e a vigilância nem sempre eficiente, mas necessária, dos sindicatos sobre o cumprimento desse requisito.
Tenho ouvido, há anos, como continuei ouvindo, hoje, quando o STF decidiu por oito votos a um acabar com a obrigatoriedade do diploma, essa lengalenga interminável sobre os riscos que a liberdade de expressão sofria com a restrição legal a candidatos a jornalistas sem formação acadêmica específica. Esse discurso enviesado de paixão patronal, adulado aqui e ali por jornalistas dispostos a se sintonizar com os sempre citados países do Primeiro Mundo que não exigem diploma, gerou uma percepção falaciosa, para dizer o mínimo, de que para ser jornalista basta apenas ter jeito para a coisa, saber escrever, ser comunicativo ou, como citou um desses ministros do STF, “ter olho clínico”. Foi baseado nesse amontoado de bobagens, dentro de uma anti-percepção da realidade do ofício, que se votou contra o diploma no Supremo.
Conheço e respeito alguns (poucos) jornalistas, excelentes jornalistas, que sempre defenderam o fim do diploma, e não porque foram cooptados pelo patronato, mas por se fixarem em bons exemplos e na própria e bem sucedida experiência. São jornalistas de outros tempos, de outras redações, de outra e mais complexa realidade brasileira, mais rica, em vários sentidos, de substância política e social. Não é o que vivemos hoje. Não por acaso, e em tom de deboche calculado, o ministro Gilmar Mendes, que processa jornalistas que o criticam e crê numa imprensa controlada, comparou jornalistas a cozinheiros e costureiros ao declarar seu voto pelo fim da obrigatoriedade do diploma. É uma maneira marota de comemorar o fim da influência dos meios acadêmicos de esquerda, historicamente abrigados nas faculdades de jornalismo, na formação dos repór
Sem precisar buscar jornalistas formados, os donos dos meios de comunicação terão uma farta pescaria em mar aberto. Muito da deficiência dessa discussão vem do fato de que ela foi feita sempre pelo olhar da mídia graúda, dos jornalões, dos barões da imprensa e de seus porta-vozes bem remunerados. Eu, que venho de redações pequenas e mal amanhadas da Bahia, fico imaginando como é que essa resolução vai repercutir nas redações dos pequenos jornais do interior do Brasil, estes já contaminados até a medula pelos poderes políticos locais. Arrisco um palpite: serão infestados por jagunços, capangas, cabos eleitorais e familiares.
O fim da obrigatoriedade do diploma vai, também, potencializar um fenômeno que já provoca um estrago razoável na composição das redações dos grandes veículos de comunicação: a proliferação e a expansão desses cursinhos de trainee, fábricas de monstrinhos competitivos e doutrinados para fazer tudo-o-que-seu-mestre-mandar. Ao invés de termos viabilizado a melhoria dos cursos de jornalismo, de termos criado condições para que os grandes jornalistas brasileiros se animassem a dar aulas para os jovens aspirantes a repórteres, chegamos a esse abismo no fundo do qual se comemora uma derrota.
De minha parte, acho uma pena".
4 comentários:
Fiquei decepcionado com a profunda ignorância do Supremo Tribunal sobre o que é o campo jornalístico. O Jornalismo é bem mais que domínio da língua e o relato dos fatos. Nesta decisão, eles ignoraram que na academia estudamos as teorias da comunicação, a ética jornalística, problematizamos e discutimos a relação da imprensa com a sociedade, a responsabilidade jornalística, a sociologia, filosofia da comunicação etc. como formas de refletir sobre a profissão e não apenas utilizar técnicas narrativas. Todos esses conhecimentos são indipensáveis para a formação de um profissional com ampla visão de mundo e formação cultural. Não se pode resumir a atividade apenas como se fossemos "contadores de histórias". É bem verdade que, no dia-a dia das redações alguns jornalistas parecem esquecer o que estudaram na academia. Mas imagina só, se com a exigência do diploma, a sociedade já se depara com um jornalismo sensacionalista, vendido, medíocre e desinformante, como será agora, que qualquer pessoa, sem aqueles conhecimentos que citei, sem uma reflexão sistemática, poderá se dizer jornalista? Como esperar que o jornalismo evolua e tenha mais qualidade? E como um dia ser professor de uma área em que poderá nem haver mais interesse dos alunos em prestar vestibular para ela? O Supremo tratou a questão apenas como trabalhista e deixou de lado a complexidade da profissão e suas implicações sociais. E o jornalismo não é só uma questão de interesse das empresas que decidem ou não quem contratar. O jornalismo é acima de tudo uma profissão de interesse de toda a sociedade que tem o direito à informação verdadeira, ética e de qualidade, pré-requisitos que só a prática não garante. A decisão do STF significa um retrocesso e uma desvalorização não não só pela classe como também pela universidade, que apesar das dificuldades, ainda é o melhor lugar para se adquirir conhecimentos e cidadania. Sei que muitos defendem que diploma não garante ética e nem qualidade. E a falta dele, garante??É o mesmo que dizer estudem se quiser, pois dá no mesmo!!
Assino embaixo: "o jornalismo é acima de tudo uma profissão de interesse de toda a sociedade que tem o direito à informação verdadeira, ética e de qualidade".
A desqualificação do diploma de jornalista põe na pauta com mais força o debate sobre o direito à informação de qualidade, feita com ética e competência. A profissão do jornalista não foi extinta. Os jornalistas órfãos do diploma temos que por em debate os sentidos profundos do fazer jornlismo, e fazer um jornalismo que possa se afirmar diferente frente às possíveis tentativas de desqualificar a nossa profissão. .
Sabemos quanto o jornalismo é vilipêndiado no Brasil - quantos absurdos lemos e ouvimos na imprensa brasileira. Quanta coisa maravilhosa, também. Insisto: a sociedade brasileira necessita de um jornalimso de melhor qualidade. Isto parece-me inquestionável.
E nao podemos passar ao largo disso. Por outro lado acredito que o impacto maior da medida é sobre as escolas de jornalismo e sobre as redações. Sabemos que espalharam-se como vírus faculdades de administração, direito e jornalismo. Em que pese essas escolas serem um espaço de trabalho e um território de estímulo ao jornalismo crítico e militante, elas terão que ser remodeladas. Abre-se uma interrogação.
O Miro Teixeira externou possibiliad de projeto de lei recolocando a questão em outros termos, superando a leitura do stf. Há várias possibilidades.
ao insistir que o fim do diploma não é o fim do jornalismo, faço sem ter lido os argumentos e votos dos juízes do stf. Mas quero apresentar este ponto de vista: a obrigatoriedade do diploma, ao que sei, foi instituída por uma legislação da ditadura que visava mecanismos de maior controle sobre a imprensa. Nesse caso seria mais um entulho autoritário.
Antes desta lei tivemos jornalista de marcantes atuação nos jornais, dentre eles escritores do primeiro time. Cada momento histórico produz/é produzido pelos contemporâneos. Hoje a Internet que é o meio da convergência tecnológica exige uma revolução no jornalismo.
Pela primeira vez na história da humanidade a possibilidade de difundir determinadas informações é maior do que a de controlá-las, ainda que saibamos muito pouco de tudo e tantas coisas que ocorrem diariamente...
O desafio é fazer um jornalismo melhor do que se faz hoje no Brasil.
Acabei de ver trechos de um filme doc na tevê que traça panorama da história da luta revolucionária durante os 25 anos da ditadura militar. depoimentos, músicas e imagens de uma época em que vivi, mas que só tomei conhecimento aos 12 anos em 1972, quando soube da guerrilha do Araguaia pela BBC de Londres e por professores da escola "politécnica" de Itamaraju. Então envolvi-me com a produção de um jornal na escola, feitos com mimeógrafo e tipogafia. Publicamos trechos da declaração universal dos direitos do homem, o que levou o comandante militar local à escola para nos intimidar. Inclusive no dia 7 de setembro para o hasteamento da bandeira. Vivi aaquela experiência indignado porém reprimido. ainda éramos crianças entrando na adolescência.
O que tem mais valor, o diploma ou o diplomado? Parece que vocês os "formados" têm medo de serem substituídos por pessoas leigas como eu, ou que os leitores possam duvidar da sua capacidade por não apresentar o canudo para certificar o que escrevem. Como se fosse possível tornar inteligente muitas das asneiras que saem escritas todos os dias em jornais e afins.
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