quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Investidor ou especulador?

Jadson Oliveira

É tocante o zelo da nossa grande imprensa, especialmente os nossos redatores e editores de TV – ver a empáfia dos apresentadores dos telejornais da Rede Glogo – no uso das palavras “certas” para desinformar o povo brasileiro.

Em plena crise financeira internacional, detonada a partir dos títulos podres das hipotecas norte-americanas, espalhados como uma peste pelos banqueiros imperiais, quando até o presidente Lula já esbravejou contra o cassino em que se transformou a economia dos Estados Unidos, nos nossos noticiários os especuladores continuam sendo tratados, solenemente, como investidores.

Ora, investidor, pelo menos na época em que o capitalismo tinha, aparentemente, uma imagem mais respeitável, era o cara que investia dinheiro para bancar um empreendimento empresarial, ia produzir alguma coisa palpável, fazia surgir emprego, etc. O especulador não, ele joga com papéis, informações privilegiadas, essas mutretas que, confesso, tenho dificuldades em entender.

Por que a mídia não chama pelo nome correto? Pra confundir a cabeça do pobre mortal.

A manipulação da linguagem é um detalhe importante na formação de mentes e corações. Outro exemplo: Paulo Henrique Amorim, em seu blog Conversa Afiada, sempre afiadíssima, chama a atenção para a façanha dos telejornais da Globo, no noticiário sobre a crise financeira. Eles conseguem falar sobre a compra de ações dos bancos por parte dos governos dos Estados Unidos e de países da Europa, sem nunca utilizar as palavras “nacionalizar” e “estatizar”.

É uma ginástica dos diabos. Mas, compreensível. A nossa grande mídia, que Amorim chama de PIG, Partido da Imprensa Golpista, passou uns 10 anos demonizando tudo que cheirasse a estatização, nacionalização, nacionalismo. Era a fase áurea do neoliberalismo, do deus mercado, das privatizações como panacéia de todos os males, das receitas infalíveis do FMI e Banco Mundial, da “pitonisa do pensamento único” (a Leitão da TV Globo), no dizer de Bob Fernandes, da mal-cheirosa era FHC e Menem (na Argentina).

Como é que, de repente, o tão ultrajado e diminuído Estado é convocado para salvar os bancos? Como fica o legado da grande dama inglesa Margaret Thatcher? Os redatores, comentaristas e especialistas da nossa onisciente “mídia gorda” teriam que pedir desculpas aos leitores, ouvintes e telespectadores. Teriam que mudar quando os fenômenos sociais estão mudando. Dizer: “Não é bem assim, esperem um pouco, vamos estudar melhor a coisa”. Mas aí é querer demais!

2 comentários:

Mônica Bichara disse...

Bote ginástica nisso, Jadson. Esse pessoal do PIG é mestre também em jogo de cintura, contorcionismo, na arte de tapar o sol com a peneira e principalmente no golpe de tirar coelhos das cartolas dos magnatas americanos e tupiniquins. Ah! E também na arte de inverter valores, ludibriar a opinião pública e fazer o jogo dos poderosos, que sustentam seus impérios de comunicação.
Belo texto, parabéns.

Tais Bichara disse...

Belo texto! Parabéns mesmo.