quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Diarréia do mercado


Jadson Oliveira




Quando William Bonner, com aquele jeitão de corregedor geral da Verdade, da Justiça, da Moral e dos Bons Costumes, anunciou no Jornal Nacional, há poucos dias, que o presidente Lula deitou falação sobre a crise financeira internacional, com a observação que tinha falado "de maneira extravagante", pensei comigo: vem coisa interessante por aí.

E não deu outra.

Primeiro Lula lançou uma originalíssima catilinária contra o ex-deus mercado: "E agora o mercado teve uma diarréia, não foi uma dor de barriga qualquer, foi uma diarréia das brabas, e todo mundo correu atrás do Estado pedindo socorro. Passaram 20 anos negando o Estado e agora o Estado virou o poderoso pronto-socorro..." (Mais ou menos isso aí, não está rigorosamente textual, botei aspas prá dar mais charme).

Em seguida, emendou um papo sobre as conveniências do médico ao conversar com um doente terminal, referência à crise financeira (nosso presidente é detentor de um rico e popular manancial de metáforas). Disse ser normal que o médico alivie a barra. Diz que a situação tá difícil, mas, você sabe, a medicina avançou muito, vou lhe dar um remédio, blá-blá-blá. E concluíu: "Nenhum médico vai dizer: companheiro, sinto muito, mas você sifu"

Anotações (in)oportunas:

1 – Mais TV Globo. Nelson Motta, doutor em coisas de música, iniciou há umas duas/três semanas uma "coluna", às sextas-feiras, no telejornal da Globo que vai ao ar lá para a meia-noite.

A "inauguração" foi com toda pompa e circunstância, nada mais nada menos do que o Rei Roberto Carlos. A presença do Rei abrindo a "coluna" foi trombeteada com antecedência e através de várias inserções.

Apesar de não esperar muito, fiquei até curioso, pois há muito não escuto uma palavra do Rei (uso tal "título" porque nossa mídia não perde a oportunidade de alardeá-lo).

Incrível, um vexame! O Rei não disse coisa com coisa.

Nelson Motta perguntou sobre a novidade João Gilberto, quando do lançamento do disco Chega de Saudade, época em que RC iniciava sua carreira.
Roberto falou, sem convicção, aquela coisa de uma batida de violão diferente, uma banalidade que as pessoas sempre falam...Será má vontade minha?

Porra, um troço que foi gravado antes, o Rei cercado de todas as reverências. Não poderia ter estudado uma declaração mais interessante, mais inteligente? Agora, frisson mesmo foi quando o Rei chamou Nelson Motta de Nelsinho. Foi o máximo!

2 – Esta vi acho que em outra emissora (Record, SBT ou Band). A apresentadora falou da paixão dos brasileiros por automóveis, de carros antigos de colecionadores e disse assim: "Quase todo brasileiro tem um na garagem". Logo a seguir começam a aparecer na tela uns carrões e a moça informando, este aí, por exemplo, está avaliado em 80 mil reais, etc e tal.

Puta que pariu! Quase todo brasileiro? Será que ouvi corretamente? O redator da matéria, simplesmente, passou a borracha em 95% da população do país. Fico imaginando até que ponto a lógica do mercado – só existe quem tem poder aquisitivo – interfere numa afirmação deste tipo, ou é só uma questão de negligência, irresponsabilidade. (Será que é chatice matracar tais absurdos? No tempo da guerra fria dizia-se que isso era coisa de comunista, mas agora o comunismo ficou fora de moda).

3 – Na segunda-feira, dia primeiro, vi no Roda Viva (TV Cultura), o professor Valdemar Setzer, doutor em Ciência da Computação, com uma produção intelectual vastíssima. Ele é taxativo, radical: criança/adolescente não pode lidar com aparelhos que têm tela: computador/internet, televisão e video-game, sob pena de ter seu desenvolvimento mental atrofiado. (Quem quiser conhecê-lo é só digitar seu nome e pedir ao Google).

Fiquei um pouco preocupado. É que, como podem constatar por esta entrada no Mídia Baiana, tenho visto muita TV ultimamente. Porém, o professor assegura que o risco é somente para as crianças e adolescentes. Ressalva que no caso dos adultos, desde que tenham uma certa dose de discernimento, não há problema. Não sei não, professor!

4 – Por falar em televisão, como voltou o nosso vibrante apresentador Varela? Piorou mais um pouquinho depois da malsucedida incursão na campanha eleitoral baiana? Ou não? Alguém pode matar minha curiosidade? Me lembro que as peripécias da campanha culminaram com a "ameaça" de adesão ao PT, o que deixou os petistas originários arrepiados. "Merecemos?", pensaram.

7 comentários:

Mônica Bichara disse...

Esse nosso presidente ainda consegue surpreender. Quando pensamos que ele tá mais acomodado ele sai com um "sifu" desse. Muito bom!!!! Adorei a cara dos embonecados da Globo tendo que mostrar o Lula contando a historinha do médico e do paciente. Lula é "Maaaaaaaaaaaaaaara"! Beijão, Jadson, e vá procurar coisa melhor pra fazer do que ficar o dia todo na frente da TV.

Ernandes Santos disse...

Em seu site obra em progresso
Caetano diz que o "Sifu" de Lula é um é uma indecência oxítona que a imprensa consagrou. Ainda sobre grafias, diz que prefere veado a "viado". Lá ele!

Quanto ao Nelsinho, este saiu da Folha porque, segundo o jornalista Ricardo Kotscho, "criticou a crítica do jornal que criticou o show de Caetano Veloso e Roberto Carlos em São Paulo". O Rei só deve ter ido pra entrevista pra uma troca de favores. No mais, quer que tudo mais vá para o inferno.

Quase todo brasileiro tem um carro de mão.

E o professor Valdemar Setzer, com sua vastíssima produção intelectual está certo. Saia da frente da tela ou então sifu. Ou sifo.

Jadson disse...

Mônica, que é “Maaaaaaaara”? tô por fora dessa. Vou seguir o conselho de vocês e sair da frente da TV, para não mifu, ou mifo. O Ernandes continua afiadíssimo. E esse charuto, el puro cubano? Coisa de veado ou viado... Lá ele?

Ernandes Santos disse...

KKKKKKKKK! Lá ele, companheiro.

Mônica Bichara disse...

Você não sai da frente da TV, sobretudo da Globo, e não sabe o que é maaaaaaaara, Jadson? É um bordão do Seu Ladir, personagem gay de Ítalo Rossi no programa "Toma lá, dá cá". Grobo também é curtura.

Anônimo disse...

Ah! O Varela? Continua bostético.

Anônimo disse...

Lula sempre soube falar com grandes públicos, é um orador popular realmente tarimbado e, desde o início da crise, tem tomado posições internacionais avançadas. E sabe comunicar isto ao povo, que responde às suas recomendações. O "sifu" é o que há. O moralismo que vá pescar. O nosso problema é que a imprensa acaba relegando para segundo plano o protagonismo do presidente no enfrentamento da crise. Só tá faltando agora ele enquadrar o Banco Central. É um teste decisivo. Já li inúmeras vezes, inclusive nA Tarde de hoje, que Lula chamou a crise de "marola", que o Brasil estava à salvo, etc. Repetem-se ad nausean este tipo de discurso ao invés de esclarecer como evoluiu as posições e as ações do presidente brasileiro nos últimos meses. Que viva o humor em meio ao turbilhão financeiro!