sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

OS DALITS DA AVENIDA



Suely Temporal




Eles não são tão bonitos quanto o Bahuan, o personagem de Márcio Garcia da novela Caminho das Índias (TV Globo). Mas são igualmente tratados com preconceito. São garis, catadores de lata, vendedores ambulantes, pessoas que conseguem brincar com pouco ou nenhum dinheiro no bolso.

Pela primeira vez, que eu me lembre, essas pessoas tiveram alguma visibilidade na cobertura do carnaval. Através do jornal A Tarde, os leitores puderam conhecer um pouco (um pouquinho) mais de perto, a realidade dessas pessoas invisíveis no carnaval da Bahia.

Pelo trabalho dos jornalistas Flávio Costa, Valmar Hupsel e George Brito que, por algumas horas vestiram o personagem e sentiram na pele as emoções e agruras desses trabalhadores, pudemos acompanhar a realidade dessas pessoas, com bom texto jornalístico, sem pieguices, mas com emoção e verdade.

O carnaval da Bahia é bom, mas sempre se repete. Por isso, fazer coberturas diferentes é um tremendo desafio. Os personagens são sempre os mesmos: é Daniela Mercury com suas homenagens, é Bell Marques com sua competência musico-empresarial, é Ivete Sangalo com seus figurinos poderosos e sua música tocada como um mantra... Vai buscar Dalila, vai buscar Dalila, ligeiro, ligeiro, ligeiro... É Carlinhos Brown com sua irreverência genial...

Nada contra, mas em termos de assunto, novidade, notícia mesmo, ficamos reduzidos à logística de amamentação de Claudinha Leitte (mais leite do que nunca!).

Por isso, a reportagem depoimento desses colegas que por algumas horas se travestiram de garis, catadores de lata e pessoas comuns, sem credenciais, pulseirinhas, camisetas de camarote ou abadás, acabou se transformando na novidade da cobertura jornalística impressa.

Assim como os dalits estão se dando a conhecer ao universo brasileiro através dos personagens da novela Caminho das Índias da TV Globo, a cobertura dos meninos do Jornal A Tarde (perdoe por chamá-los assim, mas é que são de uma nova geração) mostrou a nós, baianos, que temos os nossos próprios dalits. Criaturas de carne e osso, que insistimos em não ver, em não tocar, mas que sem elas, carnaval seria impossível.

Além dos dalits da avenida, outra figura que mereceu destaque entre os destaques neste carnaval foi o Rei Momo. Que, pela primeira vez em muitos carnavais, teve algo a dizer, além do óbvio.


Ficou provado que, embora reine, mas não governe, o Rei Momo Gerônimo, tirou mais que onda mandando espertíssimos recados através do seu escriba, o jornalista Sandro Lobo. Ficou evidente também o recheio do Rei Momo não pode ser apenas “banha”. Seja gordo ou magro, o Rei Momo tem que ter carisma e algo a dizer, além de decretar paz e amor.

E é bom que fique claro que não é todo mundo que consegue dizer as coisas que o nosso Gerônimo disse com tanta simpatia e competência. Algo que só o carisma de um artista do seu quilate pode dar. Outra novidade foi a cobertura on line pela Web Tv do jornal A Tarde provando que a convergência das mídias é mais do que uma tendência. É uma realidade! Não há mais como dissociar um meio do outro. É tudo junto ao mesmo tempo agora.

Dizem que os jornalistas não gostam de tecer elogios a ninguém com receio de dar a impressão serem puxa-saco. Eu não me importo com isso porque quando não gosto também me manifesto. E sou defensora ferrenha da idéia de que não são apenas as críticas negativas que dão força e prestígio nessa minha profissão, apesar da maioria dos jornalistas preferirem sempre engrossar o coro dos discordantes, dos que não gostam, dos que só criticam e nunca elogiam.

Discordar é legítimo. Mas não pode ser a regra. Aliás, concordar e discordar são verbos com os quais os jornalistas estão mais do que acostumados, por isso não pude deixar de destacar o trabalho desses colegas que conseguiram de maneira simples e criativa, fazer o lugar-comum ser menos comum.

6 comentários:

Anônimo disse...

É isso aí, Suely, o diferencial dessa cobertura nos alegra, porque fico muito feliz de ver colegas fazendo um trabalho sensível e competente. Mas o que chamou atenção também foi nosso Rei Momo e você colocou muito bem o papel que Gerônimo assumiu com maestria. O nosso Momo mostrou porque é majestade, deixando os seus súditos orgulhosos de um reinado inteligente, atuante e crítico, sem perder de vista a alegria.

Anônimo disse...

pelo garis parabéns!mas vem pra cá dizer que é sempre a mesma coisa no varnaval de salvador,e ser idiota como vc,e a maioria da imprensa!que tal dizer q o carnaval do rio é diferente todo ano em que pelo o amor de Deus,vc quer o que que eles coloque o trio de cabeça para baixo para ficar diferente,me poupe e vá ter mais ciratividade nas suas matérias sua amadora,pode me responder. LEOCHICLETEIRO01@HOTMAIL.COM,OU PODE ME ADD NO MSN.AGUARDO RESPOSTAS

Suely Temporal disse...

Vc aguarda respostas? Pois fique aguardando...rsrsrsrs

Bichara disse...

kkkkkkkkkkkkkkkk Só rindo mesmo, Su, p/q a criatura, além de se esconder no anonimato (só podia mesmo ser um chicleteiromaníaco), não conseguiu perceber que você está comentando a cobertura do Carnaval e não criticando o Carnaval. Faz parte.
Aproveito para também parabenizar os colegas Flávio (querido amigo dos tempos de Correio), Valmar e George pelo trabalho. Nem sei se ele leu, mas em outras duas oportunidades também parabenizei Flávio pela conquista do prêmio, ainda no Correio, junto com Marcelo Brandão, com a série de reportagem “Justiça venal”, sobre a Operação Janus, da Polícia Civil e do Ministério Público Estadual. Foram dois meses de trabalho que renderam várias capas e o V Prêmio AMB de Jornalismo, da Associação dos Magistrados Brasileiros, na categoria Regional Nordeste.
Ah! Adorei te ver aqui nesse espaço, Temporal. Beijos (estava sumida p/q estava de férias, mas tô de volta ao batente).

Anônimo disse...

Não sei o que aconteceu, mas o comentário anterior é meu e não de Clara (minha filha). Mônica Bichara

George Brito disse...

Prezada Suely, tardiamente porque agora que encontro seu blog, mas acredito com mesmo valor, quero agradecer pela aguda visão crítica que teve sobre a cobertura do Carnaval do jornal A Tarde. Ser um "dalit da avenida" trouxe uma experiência jornalística muito rica, porque possibilitou vivenciar a realidade a ser retratada com mais veracidade e força, fugindo de uma linguagem cotidiana tecnicista. Em tempo, somos bonitões tão quanto ou mais do que Márcio Garcia (risos). Abraço. George Brito