Aquela elite do Brasil recriado pela literatura de Machado de Assis, o Brasilzão colonial que ainda está nas cabeças, gestos e atitudes de personagens como Sarney e Gilmar Mendes já desmoronou. É verdade que os apaniguados dessa cara e nobre gente continua mamando nas tetas sagradas, que são alimentadas pela riqueza construída pela maioria da nação. É verdade que muitos desses apaniguados - sobretudo os parentes - continuam tendo a garantia dos empreguinhos na corte para nada fazer em benefício da coletividades, muito pelo contrário. Ainda hoje o jornal A Tarde traz um personagem desses, o mordomo apadrinhado da governadora Roseana Sarney, sujeito que ganha R$ 12 mil no Senado. Para essa elite trabalho é ainda coisa de otário. Mas agora todos podemos botar a boca no trombone e gritar para o mundo: o rei está nu. Vivemos em um tempo em que a possibilidade de difundir informações jamais teve paralelo na história da humanidade. Hoje o nosso grito tende a ter alguma audiência, que tem crescido cada vez mais. Tenho visto, inclusive, que o posicionamento dos comentaristas políticos dos grandes jornais sofrem para o bem e para o mal da ação crítica desempenhada pelos inúmeros comentários que se lêem diariamente nos principais blogs do país. Uma nova opinião pública está sendo gestada em meio à revolução digital na qual estamos mergulhados. Neste suposto mundo novo, convenhamos, permanecem as muitas e malditas heranças do Brasil colonial. Cada uma delas terá que ser enfrentada e superada se realmente queremos - e acredito firmemente que sim - um país melhor e mais justo.
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Leio também em A Tarde que professores e diretores de escolas de jornalismo falam da necessidade de "reestruturação da categoria" e dos impactos que o fim da obrigatoriedade do diploma tem sobre a qualidade dos cursos. Estidiosos apontam a possibilidade de crescer o interesse pelas pós-graduações em jornalismo (o decano José Marques de Melo chega a falar na opção "mestrados profissionalizantes") e prevêem mudanças nos currículos da graduação, privilegiando as disciplinas humanistas no início do curso e as profissionalizantes mais para o final do curso.
Pelo que li, o diagnóstico dos especialistas entrevistados é que a valorização da formação universitária específica e a procura por vagas nas faculdades não devem sofrer modificações. Talvez haja um primeiro impacto negativo e depois as coisas tendem a voltar ao que foi até agora. Pelo menos raciocinam desta forma tendo em vista o que acontece com os cursos de publicidade. O exercício dessa profissão não requer o diploma, porém o mercado tende a buscar profissionais com formação específica adquirida em cursos universitários de publicidade.
De fato, a posição do STF, grandemente estimulada pela relatoria de Gilmar Mendes parece mais uma tomada de posição política do que jurídica contra os jornalistas, que o tem incomodado com denúncias das suas irregularidades e arrogâncias. Mas não adianta o GM querer bater em jornalistas. A voz das ruas agora tem muitos outros canais para se expressar e o bom jornalismo continuará a ser feito em quaisquer circunstâncias, pois é isto que a sociedade quer e precisa.
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Quero aproveitar este espaço para dar parabéns ao jornal A Tarde pelo acompanhamento que está dando ao caso do Parque do Vale Encantado. O jornal está dando importante contribuição para barrar a mais recente tentativa da prefeitura de destruir área de mata atlântica no município de Salvador – desta vez em Patamares. Ao invés de defender o pouco que resta das áreas verdes da cidade, cumprir a lei e garantir a implantação do Parque do Vale Encantado, local onde artistas como Ramiro Bernabó encontram “remédio que cura a neurose do ser humano”, o prefeito João Henrique prefere continuar provando, com atos insanos, que o seu governo visa mesmo é beneficiar o capital imobiliário e comprometer a vida da atual e das futuras gerações de moradores de Salvador. Quando teremos um prefeito que dê um jeito nesta sofrida Cidade da Baía de Todos os Santos?
Hoje o jornal noticia que a obra continua, apesar de embargada pelo IMA e suspenso por decisão judicial. O aterro da lagoa está sendo feito por empresas contratadas pela prefeitura. Estão aproveitando o feriadão, com a Câmara em meio recesso e as atenções voltadas para as festas joaninas para deitar a madeira ao chão, literalmente. A proteção do que resta do ecossistema da mata no local depende agora da vigilância continuada do jornal.
domingo, 21 de junho de 2009
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Um comentário:
Oi..estava procurando informações sobre a decisão do STF e achei seu blog.Gostei muito dos textos e meu diploma tb está na berlinda...
Acompanhei a votação pela tv e os miseráveis ficavam gargalhando. A categoria precisa se unir e deve haver um jeito de mudar esse contexto.A tristeza me consome e como vc citou: "A dor da gente não sai no jornal"...
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